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A Mãe (filme)
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A Mãe

Avaliação:
7/10

7/10

Crítica | Ficha técnica

O diretor Cristiano Burlan retorna ao tema da violência urbana com o qual se destacou em seus documentários Mataram Meu Irmão (2013) e Elegia de um Crime (2018). Desta vez, no registro ficcional de A Mãe, o trabalho mais acessível de sua carreira, um filme-denúncia sobre a violência policial no subúrbio paulistano.

O apelo comercial, necessário para que essa denúncia não fique restrita a um público que já conhece esses fatos, começa com a escalação da consagrada atriz Marcelia Cartaxo no papel principal. Em mais um desempenho magnífico, ela faz Maria, a mãe do título do filme, que se desespera quando seu filho Valdo (Dunstin Farias) desaparece. Na primeira parte da trama, acompanhamos a boa convivência dos dois, e as aventuras do garoto, cabulando as aulas com seu amigo. Mas logo surge a pista que indica que algo dará errado para Valdo: a imagem congelada de seu close se divertindo jogando fliperama. Na perspectiva de Maria, é o lento zoom no corredor da galeria de lojas, com uma trilha musical sinistra ao fundo. Esse recurso do zoom se repetirá em outros momentos, assim como o desfoque, empregado com a mesma intenção.

A Mãe sucumbe à tendência do cinema brasileiro contemporâneo de, buscando valorizar a cultura popular produzida fora do eixo principal, rechear o filme com trechos de amostras dessas artes. Nesse sentido, vemos vários trechos com o rapper Dunstin Farias, que interpreta Valdo, cantando suas músicas. Da mesma forma, o filme traz um pastor declarando poemas, cantados ou não, com destaque para “Cante lá que eu canto cá”, do poeta nordestino Patativa do Assaré. Embora sejam trechos longos, possuem sua importância na composição do ambiente em que vivem os protagonistas. No caso de Valdo, ressalta também a existência de um jovem talento que mereceria a chance de desabrochar ainda mais.

Mães de Maio

Conforme o filme avança, menos linear se torna a narrativa. É reflexo do desnorteamento da mãe, que bate em várias portas para encontrar o filho. Como resposta, só recebe notícias que minam suas esperanças, e até ameaças a sua tentativa de investigação. Na parte final, os tempos se misturam, a última cena revela o que aconteceu com Valdo. O diretor Cristiano Burlan opta por um plano geral, mostra a violência policial de longe. Com isso, descontrói a individualização que marcou todo o enredo. Afinal, a vítima não é só Valdo, mas todos aqueles que sofrem esse abuso da autoridade. Maria não é só Maria, mas uma das mães das vítimas, uma das Mães de Maio, registradas no frame final. Pela mesma razão, não sabemos o que Valdo escreveu no bilhete que deixou para a mãe, nem o que ele levava na sacola vermelha dentro de sua bolsa. Pois são vários bilhetes, vários motivos para a autoridade justificar as mortes. Burlan, mais uma vez, faz o cinema da denúncia, com coragem.

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Ficha técnica:

A Mãe | 2022 | Brasil | 80 min | Direção: Cristiano Burlan | Roteiro: Ana Carolina Marinho, Cristiano Burlan | Elenco: Marcelia Cartaxo, Mawusi Tulani, Helena Ignez, Dunstin Farias, Debora Maria da Silva, Rub Brown, Ana Carolina Marinho, Henrique Zanoni, Tuna Dwek.

Distribuição: Cup Filmes.

Trailer:
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