A Mulher no Jardim entrega um terror psicológico consistente, escrito por Sam Stefanak em seu primeiro roteiro para longas. O eclético Jaume Collet-Serra dirige, e bem, como fez no melhor filme de sua carreira, A Órfã (2009).
A cena de abertura demonstra uma direção inspirada (em Janela Indiscreta [1954], de Alfred Hitchcock), por apresentar a situação dos personagens sem precisar recorrer a falas ou narrações. Ramona (Danielle Deadwyler) vê e revê um vídeo, em seu celular, de seu marido David (Russell Hornsby) conversando com ela, feliz com o sonho que teve sobre a fazenda que compraram para morar. Sozinha na cama de casal, precisando se levantar com muletas e despertada pelo filho Taylor (Peyton Jackson), logo o público deduz que ela ficou viúva recentemente. Agora, Ramona precisa encontrar forças para criar os dois filhos sozinha. Além de Taylor, que tem uns 13 anos, há também a menina Annie (Estella Kahiha), que deve ter sete.
Depois dessa introdução, surge o fato que inicia a trama. Uma mulher coberta dos pés à cabeça com roupas pretas, aparece sentada no jardim em frente à casa. Ramona tenta falar com ela, mas não consegue que ela saia de onde está. Os filhos percebem que a mãe volta com a mente perturbada, irritando-se com tudo.
Assustar não é prioridade
Apesar da fotografia clara, o filme rouba do cinema expressionista o uso das sombras. Aqui, como veículo para a misteriosa mulher concretizar o seu poder, alcançando assim objetos e pessoas. Por conta dessa materialização, Ramona e os filhos se refugiam no sótão que, por ser escuro, não permite a produção de sombras. Ali acontece o confronto entre a mulher e a família. Sem apelar para sustos fáceis, criaturas horrendas, ou violência extrema (um senão é o close nos pontos da cicatriz que Ramona manipula em certo momento), Jaume Collet-Serra não é capaz de assustar o público. Como em Corra! (2017), de Jordan Peele, A Mulher no Jardim busca o terror inteligente, e não o horror como prioridade.
A resolução resolve com distinção o mistério da figura de preto. Não busca uma revelação bombástica, recurso que filmes e séries contemporâneos valorizam demasiadamente, apenas fecha com coerência o que representa a mulher sombria, ou seja, os pensamentos negativos que surgem a partir de um luto não superado. Embora não seja surpreendente, essa conclusão afasta outras opções usadas com mais frequência – como aquela de O Sexto Sentido (1999) e Os Outros (2001). O resultado é um terror com altas doses de drama, que remete muito ao período clássico de Hollywood.
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Ficha técnica:
A Mulher no Jardim | The Woman in the Yard | 2025 | EUA | 88 min. | Direção: Jaume Collet-Serra | Roteiro: Sam Stefanak | Elenco: Danielle Deadwyler, Okwui Okpokwasili, Russell Hornsby, Peyton Jackson, Estella Kahiha.
Distribuição: Universal Pictures.