Poster de "A Natureza do Amor"
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A Natureza do Amor

Avaliação:
9/10

9/10

Crítica | Ficha técnica

A direção primorosa de Monia Chokri eleva A Natureza do Amor (Simple comme Sulvain) ao patamar dos melhores filmes românticos dos últimos anos.

Atriz consolidada, a canadense Monia Chokri surpreende neste seu terceiro trabalho na direção de um longa. Ela é também a autora do roteiro, e parece fazer deste um projeto muito pessoal, pois cada plano transparece sua dedicação ao planejamento, para que toda a mise-en-scène contribua para a construção da narrativa. E, ainda por cima, chama a atenção para o emprego de recursos que não encontramos habitualmente no cinema contemporâneo. De fato, o filme transpira a essência dos anos 1970, uma das décadas mais marcantes da sétima arte.

A trama romântica

E a trama pede essa nostalgia. Como fez John Cassavetes em seus filmes, Chokri coloca a mulher no centro do enredo. Sophia (Magalie Lépine Blondeau) é professora de filosofia na universidade e namora o mesmo homem há anos. O casal quer reformar um chalé que comprou no interior, para usar como refúgio da vida urbana de Montreal, onde eles vivem juntos. Mas, antes de ser usado, o imóvel precisa de uma boa reforma. Assim, Sophia dirige-se até lá para conversar com o empreiteiro, Sylvain (Pierre-Yves Cardinal). Surge uma atração instintiva entre os dois, que fazem sexo como nunca fizeram antes em suas vidas.

Incapazes de se contentarem com uma transa casual, os dois não resistem e voltam a se encontrar outras vezes. Para representar esse amor proibido, a diretora Monia Chokri faz questão de filmá-los atrás de objetos, frisos e vidros de janelas, batentes etc. Logo, Sophia rompe com o namorado e oficializa o novo relacionamento. Nesse trecho, os dois ficam emoldurados pela abertura oval da porta, apertados e sem saída – por fim, Sophia vai embora e o agora ex-namorado fica ali sozinho nesse espaço.

As cenas de sexo entre Sophia e Sylvain possuem alta temperatura. A perspectiva dela confirma o inigualável prazer que ela sente com o parceiro, que responde à altura. Vale esclarecer que esses trechos conseguem irradiar extrema sensualidade, inclusive nos diálogos, mas evitam a nudez (exceto o traseiro masculino) e qualquer ato explícito.

O dilema

O filme, do início ao fim, se passa exclusivamente sob o ponto de vista de Sophia. Portanto, o que o espectador sabe e sente é o mesmo que ela. E, como não poderia ser diferente, o príncipe encantado mostra uma outra faceta sua, nada agradável. Numa discussão por ciúme, ele fica agressivo. É a chave que muda o romance até então perfeito.

Em paralelo, o filme insere cenas das aulas de Sophia na universidade. Essa opção não é gratuita, pelo contrário. A professora fala exatamente sobre a questão do amor e do prazer carnal, e acompanha o que se passa na sua cabeça. Inclusive, o dilema que surge entre ela e seu novo namorado.

Afinal, o prazer físico pode superar o abismo cultural entre o caipira bronco e a professora acadêmica? O roteiro reforça essa diferença ao colocar os protagonistas junto com as respectivas famílias e os respectivos amigos de cada um, que funcionam como amplificadores das características deles. A incompatibilidade fica latente na festa de aniversário de Sophia. Culminando, ainda, com um pedido de casamento improvável, como evidenciam as luvas de borracha que impedem que ela coloque o anel.

Anos 1970

Um certo maneirismo aproxima de vez A Natureza do Amor da produção dos anos 1970. A começar pelo uso frequente do zoom e da câmera sobre trilhos. Por exemplo, logo na primeira cena, no jantar, quando a câmera se aproxima abruptamente do namorado de Sophia e depois de uma convidada francesa, indicando a imediata atração entre eles. Essa movimentação se torna recorrente ao longo do filme, reprisando uma característica marcante dos filmes daquela década. Além disso, a trilha musical composta por Emile Sornin, também remete à época, principalmente quando usada em planos típicos dos anos 70, como aqueles que acompanham de longe o carro se locomovendo horizontalmente pela estrada.

Mas o recurso mais surpreendente é a tela dividida, aquela que se tornou uma das marcas do diretor Brian De Palma, especialmente a partir de Irmãs Diabólicas (Sisters, 1972). Monia Chokri recorre à versão aperfeiçoada que De Palma apresentou em Um Tiro na Noite (Blow Out, 1981), com a coruja em primeiro plano e John Travolta um pouco atrás. Em seu filme, Chokri coloca a tela dividida pela arquitetura da casa (o casal conversando um com o outro cada um em seu quarto; ou: Sophia na escada, e os demais na cozinha). O auge desse recurso está na conclusão do filme, no posto de combustíveis. No mesmo plano, Sylvain coloca a gasolina no carro, e no banco do passageiro Sophia decide se fica ou não com ele.

É um final genial, e tocante. À altura de toda a maestria que a diretora Monia Chokri demonstrou ao longo desta sua obra-prima.

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Ficha técnica:

A Natureza do Amor | Simple comme Sylvain | 2023 | 110 min | Canadá, França | Direção: Monia Chokri | Roteiro: Monia Chokri | Elenco: Magalie Lépine Blondeau, Pierre-Yves Cardinal, Francis-William Rhéaume, Monia Chokri, Steve Laplante, Marie-Ginette Guay, Micheline Lanctôt, Guillaume Laurin, Christine Beaulieu.

Distribuição: Imovision.

Assista ao trailer aqui.

Veja também a vídeo-crítica em nosso canal no Youtube.

Onde assistir:
Rosto de mulher de perfil em frente a uma lareira
Cena de "A Natureza do Amor"
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