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Um Tiro na Noite (filme)
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Um Tiro Na Noite

Avaliação:
10/10

10/10

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Crítica | Ficha técnica

“Um Tiro na Noite” merece ser (re)conhecido como uma das melhores obras de Brian De Palma

“Um Tiro na Noite” elevou Brian De Palma ao patamar de grande cineasta, e não apenas um diretor arrojado e estilizado como mostrou em seus filmes anteriores. Neste thriller, suas acrobacias técnicas estão presentes somente como recurso para a narrativa, e não meramente como um fetiche ou exibicionismo. Lançado em 1981, representou a afirmação após o também elogiado “Vestida para Matar” (Dressed to Kill, 1980) e o sucesso “Carrie, a Estranha” (Carrie, 1976). Injustamente, não costuma aparecer como uma das obras mais conhecidas de De Palma.

O início do filme talvez afugente alguns espectadores, principalmente os mais conservadores. Afinal, caracteriza um daqueles filmes B de terror, trazendo câmera subjetiva do ponto de vista do assassino. Este procura sua próxima vítima em uma república feminina, há música eletrônica, e jovens seminuas fazendo sexo ou dançando. Tudo na verdade faz parte do contexto da profissão do protagonista de “Um Tiro na Noite”, Jack (John Travolta), um editor de som que trabalha nesse gênero de filme. No fim do prólogo, corta-se para a cena de uma sala de screening, onde o diretor e Jack testam o som das cenas que acabamos de assistir.

Uma das marcas registradas de De Palma aparece logo após os créditos iniciais: a split image ou tela dividida. Os equipamentos de edição de som trabalham na parte esquerda da tela, enquanto do lado direito assistimos um noticiário de TV. Ambas imagens são fundamentais para a história.

Metalinguagem

A metalinguagem, que De Palma retomaria em “Dublê de Corpo” (Body Double, 1984), permite que acompanhemos o interessante ofício do técnico de som de filmes. Poucos conhecem a atividade dele de captar o som em ambientes externos, para usá-lo posteriormente em alguma obra. É o que Jack fazia quando presencia um acidente em que um carro cai nas águas de um lago, forçando-o a mergulhar e salvar Sally (Nancy Allen), um dos passageiros.

Nessa sequência, Brian De Palma usa o split screen novamente, desta vez disfarçado de duplo foco, para ilustrar a profissão de Jack. Em primeiro plano, ele coloca o objeto ou o ser que emite o som que ele captura. Ao fundo, o rapaz aponta seu microfone nessa direção.

O acidente e o posterior resgate da vítima recebem múltiplas tomadas, em cortes rápidos, denotando a velocidade desses acontecimentos.

Ainda dentro da metalinguagem, o espectador conhece o processo de montagem de um filme, porque Jack reúne fotogramas sequenciais do acidente para sincronizar o som que capturou. Tudo isso porque desconfia que a morte do candidato a presidente nesse episódio possa ter sido um assassinato, e esse vídeo poderia provar sua teoria. Quando ele passa a crer nisso, a câmera gira em 360 graus várias vezes na sala de edição, revelando como Jack se sente aturdido com a descoberta.

As revelações da trama surgem em doses gradativas. Dessa forma, permitem ao espectador o sentimento de dedução espontânea, como se ele descobrisse tudo através de seu raciocínio. Um bom exemplo é o som do relógio de corda, ouvido na cena do acidente, mas que, só após metade do filme, entendemos do que se trata.

Recursos da direção

De Palma reserva o uso da câmera em plongée, ou seja, de cima para baixo, para os instantes mais assustadores. Por exemplo, quando Manny (Dennis Franz) ataca Sally, ou quando Burke (John Lithgow) está prestes a assassinar uma prostituta no banheiro da estação de trem.

Já a câmera lenta entra quando Jack precisa correr para salvar Sally do serial killer. Em contraste com a sequência paralela do assassino em tempo normal, a sensação é de que o mocinho produz um esforço descomunal, mas não consegue avançar em seu objetivo. Esse recurso também é usado quando Jack bate seu carro em uma vitrine de loja. Aliás, há um detalhe irônico nesta vitrine, que mostra uma pessoa enforcada, sendo que o assassino da história tem como modus operandi o estrangulamento.

Sem revelar demais, vale comentar que o toque de mestre final está nas últimas cenas, que amarram a sequência inicial, porém, incluindo um detalhe mórbido genial. Por fim, fechem essa deslumbrante experiência de assistir esse grande filme apreciando a bela trilha sonora de Pino Donaggio, durante os créditos finais.


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