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A Noite Americana (filme)
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A Noite Americana

Avaliação:
10/10

10/10

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Crítica | Ficha técnica

Vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1974, A Noite Americana é uma encantadora declaração de amor ao cinema de um de seus mais apaixonados entusiastas, o diretor e crítico de cinema François Truffaut.

O próprio Truffaut interpreta o diretor Ferrand no filme, que conta o processo de filmagem de um longa-metragem chamado “A Chegada de Pamela”. Ilustrando a máxima que afirma que o cinema é um trabalho em conjunto, A Noite Americana não possui um personagem principal, mas um grupo de protagonistas responsáveis pelas diversas funções na produção de um filme. O diretor, os atores, os assistentes, todos ganha seu espaço dramático dentro da estória.

Bastidores do cinema

A Noite Americana abre uma privilegiada oportunidade para os amantes do cinema testemunharem as dificuldades que surgem numa filmagem que dura poucas semanas. A causa pode ser técnica, como a complexa cena na praça, com 150 figurantes e muita neve. A sua filmagem abre o filme, mas depois de concluída, o laboratório avisa que o negativo foi perdido. A refilmagem dessa cena será deslocada para o final da produção e fechará esse filme.

Os problemas pessoais são a maioria. O ator Alphonse (Jean-Pierre Léaud) traz sua namorada para trabalhar na produção como estagiária, mas ela o trai e foge com o dublê antes da conclusão das filmagens. Alphonse se desespera. Para que ele não desista do filme, a atriz Julie Baker (Jacqueline Bisset) dorme com ele. Porém, ela entra em crise porque Alphonse conta o caso para o marido dela. Até o assistente Bernard (Bernard Menez) consegue transar com duas integrantes da equipe.

A veterana atriz Séverine (Valentina Cortese) tem problemas com bebidas alcoólicas e não consegue atuar. E um dos atores, que se revela gay, sofre um acidente automobilístico e morre logo após completar suas cenas.

Há trechos cômicos no meio desse drama. A mulher do contador não sai do set por ser ciumenta e acreditar que o mundo do cinema é depravado. A equipe sofre para conseguir que um gato tome o leite de uma tigela em uma das filmagens. E o personagem Bernard sempre causa risos com seu jeito atrapalhado.

Amor ao cinema

E o tema central do filme se apresenta de várias maneiras. Uma delas é na sequência de sonho do diretor Ferrand. Ela surge fragmentada, logo depois que alguma crise acontece nas filmagens. A cada vez que surge no filme, mais se mostra dela. Até descobrirmos que se trata de uma lembrança da infância, quando ele rouba fotos de divulgação de filmes na entrada de um cinema à noite. É como se o inconsciente dele lembrasse a ele como o cinema sempre foi sua grande paixão, e que ele deve superar essas dificuldades e seguir até o fim da produção.

Da mesma forma, essa dedicação ao cinema é compartilhada pelos demais membros da equipe. Por exemplo, quando a namorada de Alphonse abandona a produção para fugir com o amante, a assistente de roteiro Joëlle (Nathalie Baye) comenta que largaria um homem por um filme, mas nunca um filme por um homem. Inclusive, dedicação maior mostra a grande estrela de “A Chegada de Pamela”, que resolve transar com o ator em crise para que ele não desista do filme, pois sabe que, sem ele, o filme não seria concluído.

Além disso, Truffaut trabalha a narrativa com inteligência para explicar informações importantes. Por isso, a trama do filme dentro do filme é relatada pelos atores numa entrevista para a imprensa. E a expressão no título do filme (a noite americana, la nuit américaine, ou day for night) é desvendada por Julie Baker para o dublê.

Autobiográfico

Essencialmente, A Noite Americana tem muito de autobiográfico. Truffaut leva para as telas suas experiências pessoais e profissionais com o cinema. Nesse sentido, a sequência do sonho revive uma travessura que ele mesmo costumava praticar quando menino. De fato, em alguns trechos, o filme se aproxima da vida real, como quando o diretor e o produtor ouvem a prova da trilha sonora, e o chamam de George, primeiro nome do compositor do filme Georges Delerue. Aliás, há várias citações a cineastas que Truffaut admira, como um quadro de Jean Cocteau, e os livros que ele recebe pelo correio,

Mas os trechos mais encantadores de A Noite Americana são as diversas sequências de montagem que ilustram o processo da filmagem, acompanhadas da belíssima trilha sonora de Georges Delerue. Um deleite para os sentidos.


A Noite Americana (filme)
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