A Noite do Dia 12 (La Nuit du 12) foge do clichê dos filmes de investigação policial. Acontece um crime, e o protagonista Yohan Vivès (Bastien Bouillon) é o encarregado de descobrir quem o cometeu. A busca por pistas, os interrogatórios dos suspeitos, enfim, todo o processo habitualmente retratado nas telas está aqui. No entanto, descobrimos que estamos diante de um longa diferenciado já nas primeiras cenas. Numa delas, porque acompanhamos como o crime aconteceu, o que nos fornece informações que os investigadores nunca terão, em especial um vislumbre do criminoso. Por isso, ainda que mascarado, podemos descartar alguns dos suspeitos que serão elencados pela polícia. Na outra cena, o filme quebra a expectativa do espectador, ao mostrar a festa de aposentadoria do atual capitão da polícia. Desta vez, não será ele o personagem principal, como costuma acontecer no gênero, mas sim o novo capitão que assume o seu posto.
Baseado no livro de Pauline Guéna, o enredo até parece um piloto de série procedural. Afinal, se concentra mais nos personagens do que na investigação em si. É por isso que, embora o crime seja um brutal feminicídio em que a vítima morre incendiada, logo depois vemos os policiais envolvidos na investigação em conversas e, inclusive, brincadeiras cotidianas. O público estranha esse distanciamento, que não combina com o típico heroísmo do cinema. Mas o filme procura isso mesmo, distanciar-se desse arquétipo, e buscar policiais humanizados. Estes se dedicam ao seu trabalho, porém não deixam de ter as suas vidas pessoais.
O exemplo de Marceau
Nesse sentido, é emblemático o personagem Marceau (Bouli Lanners). Mas velho que o seu superior Yohan, ele sempre foi um policial dedicado. Mas essa dedicação agora cobra o seu preço. Sua esposa arrumou um amante e quer o divórcio. Sem esperança de recuperá-la, dedica-se ainda mais na solução do caso da moça queimada viva. Então, seguro de que encontrou o culpado, ultrapassa os limites da conduta policial. No entanto, ele estava errado, e resolve sair da corporação definitivamente.
O caso de Marceau ensina muito a Yohan. Este se frustra com as investigações, assim como se frustra também o espectador. Nada acontece como nos filmes e nas séries. Aquele olhar adicional que o público teve no início do longa só serve para embaraçar ainda mais as deduções, pois um dos suspeitos parecia muito ter a mesma estrutura física do derradeiro inquerido. Yohan, por fim, aprende a sair do papel de policial. Dessa forma, não cairá no mesmo erro do colega Marceau. Para simbolizar essa mudança, o filme mostra que ele parou de pedalar em círculos numa pista de ciclismo para andar pelas estradas.
Sétimo filme do diretor alemão Dominik Moll, A Noite do Dia 12, traz como subtema o empoderamento feminino contra a violência que sofre. Primeiro, porque o crime que move a narrativa se trata de um feminicídio dos mais abjetos. Além disso, um dos suspeitos costuma agredir suas parceiras e um outro compôs uma música incitando a violência contra a vítima. Por outro lado, quem reabre o caso é uma juíza e quem substitui Marceau é uma policial mulher.
Investindo na construção dos personagens, A Noite do Dia 12 consegue envolver o público. A princípio, para buscar a solução do crime. Mas, ao longo do filme, se sobressai a dimensão humana do investigador, poucas vezes retratado com tamanha realidade.
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Ficha técnica:
A Noite do Dia 12 | La Nuit du 12 | 2022 | 115 min | França, Bélgica | Direção: Dominik Moll | Roteiro: Gilles Marchand, Dominik Moll | Elenco: Bastien Bouillon, Bouli Lanners, Anouk Grinberg, Pauline Serieys, Théo Cholbi, Johann Dionnet, Lula Cotton-Frapier, Pierre Lottin, Camille Rutherford, David Murgia, Mouna Soualem, Nathanaël Beausivoir, Benjamin Blanchy.
Distribuição: Pandora Filmes.
O filme estreia nos cinemas no dia 12 de julho de 2023.