No ótimo Raiva (2018), o diretor brasileiro Sérgio Tréfaut conta a história de um trabalhador rural na Portugal de 1950 que cai no desespero e descamba para a violência. A fotografia primorosa, de Acácio de Almeida, é um dos seus destaques. Desta vez, em A Noiva, Tréfaut retrata uma jovem portuguesa que se casa com um guerrilheiro do Daesh. Sem Almeida, o cineasta revela seu valor como diretor já na cena inicial. A protagonista está num campo de prisioneiros no Iraque, e testemunha o fuzilamento do seu marido. Ao invés de buscar a emoção através da exposição da violência, Tréfaut prefere manter a câmera em close-up na protagonista, e revelar o que acontece através da sua reação (e do som dos tiros). Assim, consegue com o extracampo um efeito dramático muito forte e ainda essencial para nos introduzir à personagem principal.
Periféricos
Embora a trama gire em torno dessa moça, nascida com o nome Bárbara, o filme abre espaço para personagens periféricos. Dessa forma, acompanhamos cenas com dois meninos que são filhos de outras “noivas do Jihad” no campo de prisioneiros, e que ficam para trás quando as mães são levadas para Bagdá. Vemos, também, trechos recorrentes do cotidiano do guarda da prisão na capital iraquiano. Um pouco antes, vimos a visita da sogra de Bárbara, a partir de momentos anteriores à sua chegada ao campo de prisioneiros. Além disso, vemos a chegada do pai de Bárbara, já perto da conclusão, para assistir ao julgamento da filha.
Esse recurso, que abre o leque de personagens, permite uma visão panorâmica do que acontece nesse lugar. Se se concentrasse apenas na visão de Bárbara, o retrato seria mais restrito. O resultado é um filme sempre interessante, pois traz à tona uma realidade desconhecida e captada por espectros diferentes. Porém, com isso, o impacto dramático fica reduzido e sequer nos afligimos quanto ao destino da protagonista.
Um bom filme, mas inferior a Raiva.
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Ficha técnica:
A Noiva | 2022 | Portugal | 81 min | Direção e roteiro: Sérgio Tréfaut | Elenco: Joana Bernardo, Hugo Bentes, Lola Dueñas, Hossein Hassan, Rekesh Shahbaz, Saman Mustefa.
Este filme está na programação da 46ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo (20 de outubro a 2 de novembro de 2022).
