Em A Novata (The Novice), a diretora estreante Lauren Hadaway enfrenta o desafio de retratar os conflitos internos de sua protagonista. Beira o terror psicológico de Cisne Negro (Black Swan, 2010), de Darren Aronofsky. Nos dois filmes, a obsessão por ser a número um coloca a personagem em perigo, mas com a diferença de que Hadaway não recorre ao fantástico, embora abra espaço para alguns delírios e analogias com animais (no caso, um caranguejo).
A Novata deixa o espectador em constante alerta. A qualquer momento, parece que o filme entrará no terror, até por trazer no papel da protagonista Alex Dall a atriz Isabelle Fuhrman, de A Órfã (Orphan, 2009) e A Órfã 2: A Origem (Orphan: First Kill, 2022). A direção de Hadaway contribui para essa sensação. Ela, que antes trabalhou com ADR (adição de voz para melhorar a qualidade dos diálogos), usa sua especialidade para inserir sussurros da personagem principal, principalmente na primeira parte do longa. O efeito causa estranheza, como se ela falasse consigo mesma, ou como se ouvisse uma voz de seu inconsciente.
Além disso, em termos de imagem, emprega planos curtíssimos, desfoques, close-ups que distorcem. Há até um maneirismo no capricho para apresentar uma cena de teste físico dos limites de Alex. Nesse trecho, o uso do extremo slow motion, dos planos detalhes elaborados que dão evidência às gotas de suor, ganha uma distoante canção de rock and roll dos anos 1950. O resultado é plasticamente bonito, mas também arrepiante, pois causa muita estranheza. E, mais importante que tudo, esse estilo rebuscado combina com a narrativa sufocante que guarda uma surpreendente revelação para a parte final.
Severa consigo mesma
A personagem Alex, em si, parece viver em constante sacrifício. Estudante universitária, ela sempre é a última da sala a entregar a prova, pois aproveita até o último instante para revisar as respostas várias vezes. Então, quando se inscreve na modalidade de remo da universidade, ela quer chegar logo à equipe principal, apesar de nunca ter praticado esse esporte na vida. Em comparação com a concorrente direta, tem desvantagem, porque a outra possui um dom natural para o esporte. Para compensar, Alex chega ao extremo dos seus limites, deixando feridas nas mãos e marcas de contusão por todo o corpo.
Alex exige muito de si mesma, e quando o treinador lhe diz que precisa se esforçar mais, mergulha ainda mais nos esforços. Ser severa com ela própria esconde a sua insegurança. Isso fica claro pelo efeito grandioso provocado pelo elogio da treinadora. A conclusão, por fim, expõe o peculiar distúrbio psicológico dessa jovem. Mas o filme não tenta explicar os motivos.
Pelo lado negativo, A Novata perde força por não se definir quanto ao seu gênero cinematográfico. Cria uma expectativa de terror que o filme nunca entrega. Nesse sentido, as cenas mais tensas se restringem aos danos físicos que a protagonista provoca nela mesma. Caberiam, assim, imagens aterrorizantes de alucinações criadas pela mente deturpada de Alex. Talvez, com isso, o clímax final fosse mais satisfatório. O duelo entre Alex e sua concorrente, em meio a uma chuvarada com raios e trovões não consegue entregar o efeito bombástico que deveria ter. Aliás, nesse trecho a direção está confusa, e não sabemos direito o que acontece na cena.
Enfim, A Novata é um filme que prende o espectador, mas que decepciona por se afastar de momentos extremos.
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Ficha técnica:
A Novata | The Novice | 2021 | 97 min | EUA | Direção e roteiro: Lauren Hadaway | Elenco: Isabelle Fuhrman, Amy Forsyth, Dilone, Jonathan Cherry, Kate Drummond.