“A Piscina”: A beleza interrompida
Beleza. É o que marca o início de “A Piscina”, filme do diretor francês Jacques Deray. Uma piscina com a exuberante vista das montanhas de Saint Tropez, na Cote d’Azur, é o cenário para Alain Delon exibir seu corpo bronzeado vestindo apenas uma sunga. Para aperfeiçoar o quadro, aparece Romy Schneider com um pequeno biquíni preto, provando que já não é a garotinha dos filmes da princesa Sissi. O casal seminu troca carícias até serem interrompidos por um telefonema que avisa a chegada de um ex-namorado de Marianne, personagem de Schneider.
Com a vinda do visitante, o belo grupo então se completa. Harry traz consigo sua filha de 18 anos, Pénélope, vivida pela jovem Jane Birkin, que transborda sensualidade não intencionalmente, apenas por estar linda. E Maurice Ronet revive com Delon a dualidade de relacionamento de “O Sol por Testemunha” (Plein Soleil, 1960), a adaptação de Réne Clément para o livro “O Talentoso Ripley”, prenunciando o romance policial ensolarado que “A Piscina” se revelará.
A verdade por trás de tanta beleza começa a se evidenciar. A casa com a piscina não pertence a Marianne ou a Jean-Paul (Delon), foi emprestada por um amigo. Harry ainda deseja sua antiga amante e tenta seduzí-la, ao mesmo tempo que provoca Jean-Paul, que finge não ligar para a ligação entre os dois. Pénélope percebe a intenção de seu pai e se sente constrangida. A jovem, porém, acaba vítima do charme do anfitrião. E Marianne, por seu lado, tenta mostrar que não se sente enciumada.
Por fim, esse turbilhão de sentimentos represados acaba detonando um ato impensado de Jean-Paul, com um trágico assassinato como resultado. Então, um investigador da polícia entra em ação para desvendar o que aconteceu.
Direção e roteiro
O roteiro, de Jean-Claude Carrière, opta por diálogos com frases curtas, muitas vezes não expressando o que os personagens de fato pensam. O diretor Jacques Deray aproveita os momentos entre as falas para focar nos semblantes dos atores, que habilmente revelam o sentimento que está por dentro. Marianne, por exemplo, diz a Jean-Paul que ele deve se sentir livre para ficar com Pénélope, como se não se importasse, mas em seguida sobe ao seu quarto e cai em prantos. Perto do desfecho do filme, ao se despedir amavelmente da garota, no aeroporto, ela é filmada através de um espelho fosco, representando sua insinceridade.
Existe um interesse pulsante no relacionamento de Marianne e Jean-Paul que prende o espectador. Os dois se gostam e querem parecer que são um casal moderno, contemporâneos ao revolucionário ano de sua filmagem (1968) e que não sucumbe às armadilhas triviais do ciúme. Porém, o sentimento interno é outro. Após o incidente fatal, fica a dúvida de como eles reagirão. Em uma cena marcante, vemos as duas mulheres, cada uma refletida em uma das lentes dos óculos de sol de Jean-Paul, o que mostra que ele está dividido entre qual opção escolher.
Deray trabalha fortemente com elipses, por isso os diálogos são espaçados. Prefere deixar fora da tela acontecimentos vitais da história, como o ato sexual entre Jean-Paul e Pénélope, e o momento dramático em que o corpo é encontrado. Assim, o espectador sente que as emoções são contidas, o mesmo que se passa com os personagens. Não são necessárias palavras para se entender o que cada protagonista sente. Por exemplo, enquanto estão num sofá assistindo uma antiga comédia muda, Jean-Paul assiste o filme com semblante sério, Pénélope está no meio se divertindo com o que passa na TV, e Marianne está com olhar distante.
Final alternativo
Aliás, existe um final alternativo, presente em extras de alguns DVDs do filme, que consegue encerrar a história mais convincentemente do que o da versão final. Principalmente porque mostra um desenrolar mais consistente para a personagem Marianne. Na conclusão presente no lançamento oficial, Marianne parece sucumbir aos desejos de Jean-Paul, o que destoa com a personalidade mostrada por ela desde o princípio.
Ficha técnica:
A Piscina (La Piscine, 1969) 120 min. Dir: Jacques Deray. Rot: Jean-Claude Carrière, Jacques Deray, Jean-Emmanuel Conil. Com Alain Delon, Romy Schneider, Maurice Ronet, Jane Birkin, Paul Crauchet, Steve Eckardt, Maddly Bamy, Suzie Jaspard, Thierry Chabert, Stéphanie Fugain.
Assista: Alain Delon e Romy Schneider no lançamento de “A Piscina”