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A Ponte do Rio Kwai (filme)
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A Ponte do Rio Kwai

Avaliação:
10/10

10/10

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Crítica | Ficha técnica

“A Ponte do Rio Kwai” é cinemão clássico no melhor sentido dessa classificação. A realização é de um grande estúdio, a Columbia Pictures, em formato scope e em technicolor. Adicionalmente, conta com um produtor poderoso, Sam Spiegel, supervisionando de perto o trabalho do diretor David Lean. O orçamento era astronômico, e permitiu a construção de uma ponte de verdade, em locação no Ceilão (hoje Sri Lanka), para ser explodida no final do filme.

Mas, o diretor precisou ceder a pelo menos uma concessão para o sucesso comercial do projeto. E foi a escalação de algumas mulheres no filme. Dessa forma, o elenco não ficaria exclusivamente masculino. Mas, as presenças forçadas da enfermeira que flerta com o herói americano e das jovens birmanesas que ajudam o grupo que destruirá a ponte não causa dano a esse que é um dos maiores épicos de guerra de todos os tempos.

Birmânia, hoje Myanmar

A estória, baseada no livro de Pierre Boulle, se passa em 1943 na Birmânia (hoje Myanmar). Especificamente, em um acampamento do exército japonês, que obriga os seus prisioneiros americanos a construírem uma ponte sobre o Rio Kwai. Então, os japoneses capturam também um pelotão inglês, que chega ao local marchando e assobiando a música “Colonel Bogey”. Na Segunda Guerra Mundial, os ingleses cantavam essa canção como uma paródia que tirava sarro de Hitler. A melodia e a disciplina dos soldados, comandados pelo Coronel Nicholson (Alec Guiness), impressionam a todos.

Quem comanda o campo de prisioneiros, de forma ditatorial, é o Coronel Saito (Sessue Hayakawa). Logo, sua prática de empregar oficiais em trabalhos forçados contraria o coronel inglês, que sabe que a medida desobedece a Convenção de Genebra. Então, começa um duro duelo psicológico entre os dois comandantes. Em pouco tempo, o determinado Nicholson chega à beira da morte, trancafiado em uma cabana debaixo de um calor insuportável. Mesmo assim, ele não desiste. Nesse ponto, a cena em que Alec Guinness sai do local apelidado de “forno” para falar com Saito é impressionante. Quase um morto-vivo, Guinness mantém a dignidade do oficial inglês no embate de palavras. Merecidamente, o futuro Obi-Wan Kenobi levou o Oscar de melhor ator por “A Ponte do Rio Kwai”.

Superioridade britânica

A vitória de Nicholson sobre Saito contrasta uma emocionada comemoração de todos os prisioneiros, aproveitando toda a largura da tela em scope, e o lamento solitário do comandante derrotado. Saito cede porque Nicholson representa a única chance de concluir a construção da ponte dentro do prazo determinado por seus superiores. O coronel inglês deseja demonstrar a superioridade dos britânicos e abraça a missão desafiadora de realizar a obra, apesar de seus companheiros entenderem que isso significaria ajudar o inimigo.

Enquanto isso, o norte-americano Shears (William Holden) consegue fugir pela selva. Então, o exército inglês o resgata, e o usa para guia-los até o local da construção para explodir a ponte. Shears não pretende voltar até o local de onde escapou, mas não tem alternativa. Os ingleses sabem que ele fingiu ser um oficial para obter privilégios no campo de prisioneiros. Assim, caso ele se negue a aceitar essa tarefa, será denunciado. Finalmente, um pequeno grupo parte então para a difícil missão.

O roteiro

O brilhante roteiro mantém o interesse durante as duas horas e quarenta minutos do filme. Primeiro, no duelo psicológico entre Nicholson e Saito. Depois, nos trabalhos dos ingleses para construir a ponte. Em paralelo, acompanhamos ainda a difícil fuga de Shears pela selva, que em seguida enfrentará esse difícil caminho retornando para o local da ponte. E, finalmente, o momento sublime da tentativa de explodir a construção.

O filme ganhou o Oscar pelo roteiro adaptado, mas, na época, somente Pierre Boulle recebeu o prêmio. Carl Foreman e Michael Wilson estavam na lista negra anticomunista e não puderam ser creditados. O reconhecimento chegou tardiamente, em 1984. Foreman morreu depois de poucos meses e Wilson já tinha falecido muito antes, em 1978.

Os personagens

A construção dos arcos dos personagens principais de “A Ponte do Rio Kwai” é exemplar. Saito possui a dignidade de uma cultura samurai, e se sente desonrado pela derrota no duelo com Nicholson. Ainda assim, engole seu orgulho para cumprir sua missão de construir a ponte, e, ao final da obra o vemos segurando um punhal que o libertará através do suicídio.

Nicholson espelha esse oficial inimigo, igualmente guiado por princípios inabaláveis que lhe fortalecem para vencer Saito. Mas, essa obstinação por dedicação atrapalha o seu julgamento.. Afinal, ele acaba auxiliando o inimigo ao concluir a construção da obra. Então, perto do seu fim, tem um momento de clareza, quando se pergunta “O que eu fiz???”. E, quase inconsciente, consegue sua redenção.

Já Shears representa o oposto dos dois honrados oficiais. Ele é malandro, suborna um soldado japonês para ser mantido na enfermaria e assim escapar dos trabalhos forçados. Na verdade, só aceita a missão de destruir a ponte porque corre o risco de ser denunciado por fingir ser mais graduado do que realmente é. Porém, também ganha a oportunidade de se redimir, e arrisca sua vida para explodir a ponte.

Enfim, tudo funciona em “A Ponte do Rio Kwai”. É um ótimo exemplo de cinema clássico que ganhou sete Oscars: melhor filme, direção, ator principal, roteiro, fotografia, edição, e trilha musical.

Como curiosidade, o famoso tema do filme está em “A Dama Oculta” (The Lady Vanishes, 1938), de Alfred Hitchcock, quando o protagonista vai tomar banho assobiando a  sua melodia.


A Ponte do Rio Kwai (filme)
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