A Primeira Morte de Joana trata com delicadeza a descoberta da sexualidade adolescente.
A história se passa em 2007, no sul do Brasil. Não está tão longe no tempo, mas era uma época menos aberta para a liberdade de gênero do que hoje. A protagonista Joana, de 13 anos, sente isso de perto, pois a sua conservadora mãe insiste em diferenciar atitudes “de guris e de gurias”.
Literalmente, o título do filme se refere ao falecimento da tia Rosa. A perda provoca uma incontornável necessidade de Joana descobrir por que sua tia nunca se casou. Aos poucos, o enredo aproxima esse questionamento à sexualidade da própria Joana, ainda inexperiente no assunto.
Logo, o convívio intenso com sua melhor amiga Carol encaminha a autodescoberta de Joana. Aliás, tal como acontece no seu sonho, em que emblematicamente Carol assopra o rosto de Joana e a tela ganha uma luminosidade maior. Afinal, essa amiga, até na aparência, é mais experiente, tendo beijado outra menina. Porém, por isso, sofre críticas dos adultos conservadores e bullying de alguns colegas.
Na verdade, a percepção de Joana sobre o sexo está em todo lugar. Ela flagra a sua avó, que é viúva, fazendo sexo casual com o amolador de facas. Enquanto isso, sua mãe, separada, engata timidamente um namoro com um rapaz da umbanda.
Fim da infância
Acima de tudo, o filme trata do fim da infância de Joana, que é a semântica metafórica da primeira morte do título. Nesse sentido, o roteiro define a falecida tia como uma artista que fazia bonecos para vender. E um deles, um personagem com asa delta, Joana coloca no caixão ao se despedir dela no funeral. Depois, a última cena mostra uma pessoa voando de asa delta no céu, o que fecha esse simbolismo que representa o abandono dos brinquedos da infância, em troca de sonhos mais altos e concretos.
Da mesma forma, Joana e Carol enfrentam, separadamente, os obstáculos no caminho até os aerogeradores, os cataventos que geram energia eólica. Em especial, atravessam a rodovia, que, segundo a mãe de Joana, é perigosa demais para crianças. Mas, agora, as duas adolescentes não mais se contentam em observar as coisas de longe.
Direção e elenco
A diretora Cristiane Oliveira leva para as telas seu sensível roteiro quebrando as cenas, que são majoritariamente longas, em vários planos curtos. Assim, garante uma fluência agradável. Em consonância com essa sensação, o filme apresenta enquadramentos corretos, que se encaixam na narrativa. Isso acontece, mesmo quando, propositalmente, deixa fora do quadro a cabeça do personagem amolador de facas.
Completa isso tudo a maravilhosa atuação de Letícia Kacperski no papel de Joana. Com rara adequação entre personagem e atriz, ela transmite convincentemente a meninice em processo de amadurecimento pelo qual passa a protagonista.
Por fim, vale destacar que as pequenas ousadias de A Primeira Morte de Joana se encaixam com perfeição nessa passagem marcante na vida da personagem principal. De fato, é reconfortante assistir a um filme que acerta tão bem o seu tom.
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Ficha técnica:
A Primeira Morte de Joana | 2021 | Brasil | 91 min | Direção e roteiro: Cristiane Oliveira | Elenco: Letícia Kacperski, Isabela Bressane, Joana Vieira, Lisa Gertum Becker, Rosa Campos Velho, Pedro Nambuco, Roberto Oliveira, Graciela Caputti, Emílio Speck.
Distribuição: Lança Filmes.
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