A Última Chamada (The Call), também conhecido como “A Ligação”, parte de uma premissa interessante, envolvendo um segredo do passado da protagonista que voltará para assombrá-la. A revelação é uma surpresa chocante e justifica toda o castigo que ela sofrerá do sobrenatural. No entanto, o roteiro do estreante Patrick Stibbs tenta engordar a trama com outros três protagonistas, também com antigos segredos. Mas, esses não são tão interessantes, e sabotam a ideia que parecia promissora.
O filme começa acompanhando um desses personagens enxertados à força, Chris (Chester Rushing). Ele se muda com a mãe para uma cidade pequena no interior depois que os pais se divorciam. Na nova escola, ele faz amizade com uma encrenqueira, Tonya (Erin Sanders), aquela que tem o segredo que sustenta a narrativa principal. Então, os irmãos Zack (Mike Manning) e Brett (Sloane Morgan Siegel), amigos dela, completam a turma.
Há anos, Tonya carrega a mágoa da perda da irmã caçula, que está oficialmente desaparecida. O mistério nunca foi desvendado, mas as suspeitas levavam a Edith Cranston (Lin Shaye), uma senhora que era proprietária de uma instituição para crianças e que fechou as portas depois da má fama. Agora, a idosa precisa aturar o bullying dos jovens que vão até a sua casa, onde vive com o marido Edward (Tobin Bell), para atormentá-la. Tonya e seus amigos levam Chris para fazer essa abordagem numa noite, que será a última visita que a velha Edith aturará.
O que funciona (e o que não)
A atriz Lin Shaye está em alta dentro do gênero terror, desde que atuou em Sobrenatural (Insidious, 2010), de James Wan. Da mesma forma, Tobin Bell alcançou a fama tardia como o Jigsaw da franquia Jogos Mortais (Saw, 2004), igualmente de James Wan. Aliás, este A Última Chamada envereda também em um jogo sinistro. No filme, o velho Edward Cranston desafia os jovens a aguentarem durante um minuto uma conversa no telefone com sua recém-falecida esposa. Quem conseguir, ganha cem mil dólares.
Os dois atores veteranos emprestam um pouco de dignidade ao filme, mas não compensam as péssimas atuações dos colegas mais novos. É impossível sentir qualquer empatia pelos personagens que eles interpretam. Pode ser uma opção do diretor Timothy Woodward Jr., recurso muito usado em slashers para não sentirmos pena das vítimas do serial killer. Porém, deveríamos torcer pelo menos por um dos protagonistas, ou então nos alinharmos com o assassino vingativo. Mas, em A Última Chamada nenhum desses apelos está presente.
O filme ainda força uma nostalgia oitentista. A trama se passa em 1987, mas isso não está nem caracterizado em cena, exceto pela parte inicial do longa. E não tem nenhuma importância para o enredo, exceto justificar a ausência de telefones celulares. Fica a impressão, de fato, que a época só serve como desculpa para inserir alguns acordes de teclado eletrônico, que, aliás, são tímidos demais.
Esse já é o 17º longa-metragem dirigido por Timothy Woodward Jr., e todos seus filmes são abaixo da média. Nesta produção, ainda encontramos algo positivo, especialmente os mortos que voltam como assombrações assustadoras. Nesse ponto, merece destaque a efetiva construção da ex-namorada de Chris, que se movimenta aos trancos e anda com o corpo virado. Teria, também, a trama individualizada da personagem Tonya, mas isso se perde com os clichês dos demais protagonistas. Enfim, é mais um filme abaixo da média desse diretor de terror B pouco inspirado.
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Ficha técnica:
A Última Chamada | The Call | 2020 | 97 min | EUA | Direção: Timothy Woodward Jr. | Roteiro: Patrick Stibbs | Elenco: Lin Shaye, Tobin Bell, Chester Rushing, Erin Sanders, Mike Manning, Sloane Morgan Siegel, Judd Lormand.
Distribuição: Cinemark.