A Vida de Uma Mulher apresenta em pequenos recortes a predominantemente triste existência de uma aristocrata francesa no século 19, da juventude à velhice.
Jeanne mora em uma bela casa de campo, uma das várias propriedades de seus pais, os barões Simon e Adélaïde Le Perthuis des Vauds. E, ainda jovem, se casa com o visconde Julien, com quem tem sua primeira experiência sexual. Aliás, numa cena em que o diretor Stéphane Brizé reflete o incômodo de Jeanne com um enquadramento em close muito fechado, com câmera fixa, extremamente claustrofóbico.
A princípio, o casamento traz alguns momentos de alegria para Jeanne, revelados em passeios felizes pelos belos campos da propriedade. Porém, Julien é infiel, e engravida a empregada Roselie. Enquanto Jeanne tenta superar isso através do perdão estimulado pelo padre local, logo ele volta a trai-la, e uma tragédia acaba com o relacionamento. Então, Jeanne precisa criar seu filho sozinha, e ele tem uma personalidade difícil. Ainda na escola, é um rebelde. E quando fica adulto vive envolvido em dívidas, enquanto ela própria entra em decadência financeira.
Análise do filme
O tema da desilusão amorosa que conduz a uma tragédia, e o tom dramático, características alinhadas ao ritmo lento e à narração em terceira pessoa com estilo literário remetem aos filmes do diretor François Truffaut. Até mesmo o formato da tela, 1.33 : 1, se aproxima do utilizado na época desse cineasta dos anos 1960 e 1970, fugindo do widescreen do cinema contemporâneo.
Por outro lado, trechos fragmentados, cronologicamente ordenados, com poucos diálogos e geralmente com entonação baixa, narrações literárias, tornam A Vida de Uma Mulher um exercício de contemplação lenta da vida com poucas alegrias da sua protagonista. A conclusão traz a esperança de um crepúsculo de existência onde a felicidade serena, enfim, se torna possível. E o espectador se sente satisfeito por ter acompanhado essa bela adaptação do livro “Uma Vida”, de Guy de Maupassant.
Ficha técnica:
A Vida de uma Mulher (Une Vie, 2016) França/Bélgica, 119 min. Dir: Stéphane Brizé. Rot: Stéphane Brizé, Florence Vignon. Com Judith Chemla, Jean-Pierre Darroussin, Yolande Moreau, Swann Arlaud, Nina Meurisse, Lucette Beudin, Clotilde Hesme, Alain Beigel.
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