Billy Crystal emula Woody Allen em A Vida é Agora. Ele escreve (mas, ao lado de Alan Zweibel), dirige e interpreta o protagonista que parece ser seu alter-ego. Além disso, filma em Nova York, cidade que é o habitat natural de ambos.
A trama
O viúvo Charlie Burnz é um escritor de livros, roteiros e sketches cômicos. Na velhice, continua a trabalhar no programa de TV que ajudou a criar há décadas. Porém, ele está gradativamente perdendo a memória por causa de uma espécie de demência.
Ele não conta sobre a doença para seus dois filhos, porque precisa se reconciliar com a filha que pensa que ele é o responsável pela morte da mãe. Enquanto isso, uma improvável amizade com uma cantora de rua nasce e se fortalece.
Dos risos às lágrimas
A comédia dramática A Vida é Agora começa muito engraçada, mas, aos poucos, troca as risadas pelo choro. Afinal, a demência se agrava e Charlie sabe que precisa acertar as contas com o passado, antes que seja tarde demais.
As situações cômicas investem no contraste entre Charlie e sua nova amiga Emma Payge, interpretada por Tiffany Haddish, de Rainhas do Crime (2019). O tipo de humor que nasce naturalmente de cada um, inerentes aos próprios atores, é bem diferente.
Billy Crystal trabalha o sarcasmo, as frases sem sentido e é embalado pelo jazz das antigas. Já Tiffany Haddish faz rir com seu jeito de mulherão sexy, desbocada e sem modos. E sua trilha sonora é outra: ela canta numa banda de soul malicioso. A polarização diminui ao longo do filme, conforme se estreita o relacionamento, mas mantendo resquícios que fazem parte indissociável dos personagens.
O lado dramático de A Vida é Agora comove porque Billy Crystal é um ator talentoso, e não apenas um comediante. Porém, é a parte do filme que soa mais previsível. Na verdade, os flashbacks recorrentes dos traumas de Charlie indicam um acontecimento mais trágico do que o desfecho revela.
A direção
Como diretor, Billy Crystal surpreende quando opta por apresentar suas lembranças do seu relacionamento com sua esposa Carrie exclusivamente em câmera subjetiva. Pelo lado prático, isso evita a busca por alguma solução para mostrar o personagem Charlie jovem, quando a conheceu. Por outro lado, explora a sensualidade que a atriz Louisa Krause, da série Billions, traz ao personagem. Afinal, dessa forma, ela fala diretamente para a câmera, olhando para o espectador.
Além disso, A Vida é Agora vai fundo na metalinguagem. Principalmente, quando coloca Charlie numa entrevista junto com o diretor e o elenco de um filme de sucesso chamado “Call Me Any Time”. O filme é fictício, mas os verdadeiros Barry Levinson, Sharon Stone e Kevin Kline interpretam a si mesmos.
Esta é a terceira vez que Billy Crystal dirige um longa-metragem. Os outros dois foram realizados há décadas: Mr. Saturday Night (1992) e Esqueça Paris (1995). Aos 72 anos, ele comprova em A Vida é Agora que possui ainda lenha para queimar nessa função. Afinal, ele consegue transitar entre os tons leve e cômico para o amargo e triste com competência, num filme que captura e mantém a emoção do espectador.
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Ficha técnica:
A Vida é Agora | Here Today | 2021 | EUA | 93 min | Direção: Billy Crystal | Roteiro: Billy Crystal & Alan Zweibel | Elenco: Billy Crystal, Tiffany Haddish, Penn Badgley, Laura Benanti, Louisa Krause, Anna Deavere Smith, Nyambi Nyambi, Sharon Stone, Kevin Kline, Barry Levinson.
Distribuição: Sony Picture HE.