Adeus, Garoto se revela uma estreia muito pessoal do diretor Edgardo Pistone. Filmado em Rione Traiano, na periferia de Nápoles onde ele nasceu, o longa retrata um ambiente cruel, marcado pelo crime.
Pistone exercita um estilismo que contrasta com esse cenário brutal. O plano de abertura, por exemplo, mostra rapazes saltando para a água, um após o outro, sem filmar a base de onde pulam. Incrementado pela fotografia em preto e branco, a cena alcança a beleza de uma dança sincronizada. No entanto, esse lirismo logo é quebrado quando os garotos furtam a bolsa de um casal de turistas na praia. A dinâmica de mostrar algo belo e depois romper essa impressão com a realidade impiedosa marca todo o filme.
Na trama, um desses rapazes, Attilio (Marco Adamo), aceita o trabalho de cuidar da jovem prostituta Anastasia (Anastasiia Kaletchuk), que faz ponto numa praia onde um carro abandonado às vezes serve de quarto de motel. O pai de Attilio é um viciado em drogas, e deve dinheiro para um traficante que o ameaça. Gradualmente, Attilio se apaixona por Anastasia, e deseja fugir com ela para outro lugar. Antes disso, quer quitar a dívida do pai. Mas, para realizar esses dois objetivos, precisa cometer um crime arriscado.
Beleza sufocada
O amor que Attilio sente por Anastasia representa a beleza que parece não poder existir nesse lugar perigoso. É como a natureza idílica dessa região banhada pelo mar e sufocada pela decadência social. A música italiana alegre que acompanha a dança do casal de jovens e a colagem de trechos na apresentação para os amigos dele caracterizam o encanto que será despedaçado de forma abrupta. A retomada do plano de abertura indica que esse ciclo continua infinitamente, sem solução.
Em outros momentos, Edgardo Pistone demonstra capricho nos enquadramentos. Por duas vezes, usa a sobreposição para colocar em primeiro plano o protagonista da cena e em segundo o personagem que provoca o que ele está sentindo. Por exemplo, Attilio chora em primeiro plano e no fundo vemos o seu pai, aquele que o faz chorar. O movimento da câmera, em outro trecho, ao se deslocar para a janela, indica a liberdade do personagem. O uso de colagens, principalmente de Anastasia, é recorrente, e parece ser uma marca autoral que só seus filmes posteriores poderão confirmar. Por outro lado, Pistone é burocrático demais ao filmar os diálogos que, por isso, soam cansativos.
Adeus, Garoto, enfim, é um belo filme de estreia. Com muitas boas ideias, e alguns poucos pontos a serem melhorados. Em relação ao tema tão pessoal, se sobressai dentro do cinema italiano contemporâneo por não falsear a realidade com esperanças improváveis.
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Ficha técnica:
Adeus, Garoto | Ciao Bambino | 2024 | 95 min. | Itália | Direção: Edgardo Pistone | Roteiro: Ivan Ferone, Edgardo Pistone | Elenco: Marco Adamo, Anastasia Kaletchuk, Luciano Pistone, Pasquale Esposito, Salvatore Pelliccia, Sergio Minucci, Luciano Gigante, Attilio Peluso, Antonio Cirillo, Rosalia Zinno.
Distribuição: Pandora Filmes.