Selecionado para a Competição Novos Diretores da 48ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, Afogamento Seco, segundo longa do diretor russo Laurynas Bareiša, surpreende pela sua engenhosa construção narrativa.
Um suspense austero
A direção de Bareiša reúne fina austeridade. A câmera permanece fixa enquanto os personagens se movimentam no quadro. Às vezes, entre a lente e o ator, está parte de uma parede, de uma porta, ou outro objeto, ou mesmo uma árvore, nas cenas externas. E isso diz muito sobre o filme, pois a verdade não está escancarada, mas escondida atrás da narrativa não-linear. Os planos são longos. Quando muito, há um movimento de zoom muito lento se aproximando da encenação. É como se o espectador observasse tudo do privilegiado ponto de vista de um ser invisível.
O ritmo permanece lento durante todo o filme. Na primeira parte, que dura uns quarenta minutos, o enredo meramente capta a rotina duas irmãs, com seus respectivos maridos e uma criança que cada família possui. O grupo está na casa de campo, após o esposo de uma delas vencer uma luta profissional. Tudo parece corriqueiro, inclusive as pequenas desavenças que evitam que o cenário se torne artificial. Como se trata de um filme, o espectador já sabe que algo quebrará essa monotonia.
O engenhoso quebra-cabeças da trama se inicia com uma possível tragédia. A cena dramática é interrompida por um corte inesperado que leva para um evento muito posterior, que desmente o fato que o espectador antecipava antes dessa interrupção. A partir daí, a narrativa vai e volta no tempo, criando uma tensa interrogação no público, que nutre uma necessidade incontrolável por descobrir o que aconteceu e como. É evidente que algo trágico aconteceu, o filme nunca desmente isso, então, as pistas só incrementam a ansiedade do espectador. Em certo momento, o filme volta a exibir a cena da possível tragédia. Nos tempos da projeção analógica, todos suspeitariam que o projecionista errou o rolo do filme.
Afogamento Seco, apesar do seu ritmo lento e da direção sisuda, tem grandes chances de agradar não só ao típico público da Mostra, mas a outros cinéfilos que não dispensam um suspense intrincado.
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Ficha técnica:
Afogamento Seco | Drowning Dry | 2024 | 88 min. | Lituânia, Letônia | Direção: Laurynas Bareiša | Roteiro: Laurynas Bareiša | Elenco: Gelminė Glemžaitė, Agnė Kaktaitė, Giedrius Kiela, Paulius Markevičius.
