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Águas Profundas (filme)
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Águas Profundas | Por Sérgio Alpendre

Avaliação:
5/10

5/10

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Crítica | Ficha técnica

É a pergunta que não quer calar: quem, a esta altura do campeonato, ansiava por um novo filme de Adrian Lyne? Diretor do chamado cinema com cara de publicidade dos anos 1980, alcançou algum nível artístico com Flashdance (1983), na onda de musicais realistas iniciada com Os Embalos de Sábado à Noite (John Badham, 1977). Conseguiu um novo bom feito com Alucinações do Passado (1990), dura incursão na vida de um viciado em drogas. Todo o restante de sua carreira varia entre o fraco (Proposta Indecente, 1993, Lolita, 1997) e o constrangedor (9 1/2 Semanas de Amor, 1986, Atração Fatal, 1987, Infidelidade, 2002). Dou um desconto para seu primeiro longa, Foxes (1980), que carece de revisão.

Talvez ele mesmo tivesse pensado que ninguém veria seu novo longa, apenas o nono de sua carreira, vinte anos após o oitavo. Deve ter dado graças aos céus quando conseguiu a atriz sensação do momento, Ana de Armas. Ben Affleck, por outro lado, parece estar saindo de moda, mas ainda não chegou a ser aquele ator que afasta espectadores. Talvez seja o ator ideal para o papel que ele interpreta, o de um marido meio apático, mas que é capaz de altas coisas para ficar com sua esposa. Ambos são um casal abastado, Vic e Melinda, com uma filha pequena, Trixie. Mas a relação entre eles é cheia de arestas. Enquanto Melinda parece viver uma vida hedonista em que o sexo, ou o flerte, é escape para algo que não sabemos, Vic se esforça para não demonstrar ciúme, não ser o marido controlador, mesmo que ela o ache um otário.

A devassidão dos ricos

Trata-se de uma adaptação do livro homônimo de Patricia Highsmith, publicado em 1957 e já adaptado para o cinema por Michel Deville, em Vítima por Testemunha (1981), que não é grande coisa, mas também não é desprezível. O enredo se assemelha, em alguns aspectos, ao de Trama Fantasma (2017), de Paul Thomas Anderson, na maneira como as manipulações entre os personagens levam à preferência pela ação, por pior que seja, à passividade do outro. Nesse sentido, tudo que Melinda quer é justamente que Vic demonstre amá-la a qualquer custo, mesmo que tenha de matar para isso. É a devassidão dos ricos, algo que um Jean Garrett trataria de maneira muito mais hábil.

Pior é que dentro do que o cinema americano nos apresenta hoje, Adrian Lyne deixou de ser o patinho feio de outrora. Quer dizer, a distância entre ele e a média do que tem sido feito diminuiu, porque o sarrafo baixou. Sua direção é certinha, sem grandes achados visuais, mas sem cenas verdadeiramente constrangedoras. Uma vez que a imagem média do cinema americano atual parece um comercial estilizado, chegamos à conclusão de que a estética do cinema contemporâneo alcançou Adrian Lyne, o que pode querer dizer também que Lyne, nos anos 1980, estava na vanguarda do atraso. O que ele fazia na época se impôs esteticamente de tal modo que hoje já não se destaca mais como perfumaria, porque quase tudo é perfumaria. Hollywood está em sono profundo.

Texto escrito pelo crítico e professor de cinema Sérgio Alpendre, especialmente para o Leitura Fílmica.


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