O diretor estadunidense David Fincher ganhou notoriedade filmando videoclipes para Madonna, Aerosmith, Rick Springfield e outros, desde 1984. Com isso, estreou no cinema em Alien 3, o terceiro filme da franquia Alien. O resultado foi um fracasso de crítica, e não alcançou o sucesso de público esperado. Quase estragou a sua carreira, o que não aconteceu porque seu próximo filme foi o excelente Seven (1995). Mas, o tempo provou que a decepção de Alien 3 não é responsabilidade exclusiva de David Fincher.
A história, escrita por Vincent Ward (não envolvido nos filmes anteriores), nunca empolga. De cara, elimina os vínculos emotivos criados no precedente Aliens (1986). Um alien estava dentro do módulo que carregava, em estado de suspensão, Ripley (Sigourney Weaver), o androide Bishop (Lance Henriksen), a menina Newt e o soldado Hicks. Esses dois últimos morrem, e o robô fica danificado quando o módulo chega a um planeta-prisão habitado apenas por homens, a maioria violentos. Ou seja, uma premissa dura, que ignora os elos sentimentais de Ripley com os outros sobreviventes. Com isso, cai por terra também a dimensão maternal que fundamentou a trama do filme anterior.
Ripley e o Alien
Desta vez, Ripley é uma lutadora solitária. Sua feminilidade é mal trabalhada no roteiro. Surge apenas como uma fragilidade na tentativa de estupro por um grupo de prisioneiros – do qual ela escapa com a intervenção de um homem mais sensato. Além disso, para torná-la menos feminina, seu cabelo é raspado como o dos demais habitantes do planeta. A intenção de isolar Ripley fica mais evidente porque um interno que está ali por ter cometido um erro quando era médico, morre logo depois de confessar sua culpa e se aproximar da protagonista. O único parceiro dela, sem nenhuma conotação romântica, é o líder espiritual Dillon (Charles S. Dutton).
A própria Ripley está menos interessante. Carregando um alien dentro de si, ela sabe que está condenada. Portanto, agora não lhe importa sobreviver e sim destruir os alienígenas – aquele que está à solta nas instalações da prisão e o outro dentro do seu corpo. Afinal, com exceção de Dillon, ela não se preocupa muito com as demais pessoas que se encontram ali. A conclusão da trama é decepcionante, como se poderia prever, diante de todos esses elementos.
Um outro aspecto que não deriva diretamente do talento de Fincher são os efeitos práticos e visuais para a criação da criatura alienígena. Em close-up, no plano que enquadra o alien e Ripley, percebe-se que o bicho ganhou um aspecto viscoso, que ajuda a torná-lo mais nojento. Mas, quando ele se movimenta, ficam visíveis os contornos de sua figura, evidenciando a montagem malfeita dos efeitos visuais. Defeito esse muito aparente e que atrapalha a experiência do espectador.
A direção de Fincher
Passemos, então, às questões mais próximas das funções do diretor. Acima de tudo, Fincher parece ter como meta realizar um filme de terror. Essa decisão representa uma decisão lógica, visto que o primeiro Alien (1979) era mais um filme de ficção-científica, e o segundo um filme de ação. Por isso, apela bastante para imagens gore (órgãos expostos a rodo, por exemplo), e nojeiras como um cano repleto de baratas.
Mas, o visual não favorece o terror. Os cenários de prisão, com prisioneiros masculinos brutalizados, a tonalidade marrom, isso tudo remete mais ao ambiente de Mad Max do que do horror. Já o uso da câmera subjetiva, tão comum no gênero, aqui parece deslocado, porque não faz sentido colocar esse recurso nos ataques dos aliens, seres bestiais sem a capacidade de pensar como um caçador de O Predador (1987), filme que abusa desse efeito para mostrar sua visão infravermelha. Parece até que Fincher deseja que o espectador se sinta como o alienígena, o que seria um erro desastroso.
A bem da verdade, Fincher erra já antes do filme. Durante os créditos de abertura, ele insere flashes do que aconteceu no módulo espacial que carregava Ripley e os três sobreviventes da aventura anterior. Não é nem de longe a melhor opção. Essa narrativa fragmentada não conta direito o que aconteceu nem provoca a curiosidade do público. Funcionaria melhor numa sequência mais clássica como prólogo.
Enfim, fica claro que Alien 3 se trata de um filme de estreia. Mas seria melhor para David Fincher e para a franquia que o diretor tivesse estreado com um pequeno filme independente, e não no terceiro filme de uma série de sucesso.
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Ficha técnica:
Alien 3 | Alien³ | 1992 | 114 min. | Reino Unido, EUA | Direção: David Fincher | Roteiro: David Giler, Walter Hill, Larry Ferguson | Elenco: Sigourney Weaver, Charles Dance, Brian Glover, Charles S. Dutton, Ralph Brown, Paul McGann, Danny Webb, Lance Henriksen, Holt McCallany, Pete Postlethwaite, Danielle Edmond.