Em Amante Por Um Dia, Gilles (Éric Caravaca) é um professor universitário que há três meses namora uma de suas alunas, Ariane (Louise Chevillotte). Ela é uma garota com a mesma idade de sua filha Jeanne (Esther Garrel, filha do diretor na vida real). Após ser dispensada pelo namorado com quem vivia, Jeanne volta para a casa do pai. Lá, passa a viver harmoniosamente com seu pai e sua namorada. Enquanto Jeanne tenta superar o trauma pelo fim do seu relacionamento amoroso, Ariane trai Gilles.
Estilo Truffaut
O diretor Phillipe Garrel parece incorporar em Amante Por Um Dia o estilo e tema recorrente do conterrâneo colega François Truffaut, dezesseis anos mais velho. Ao mesmo tempo amparado por outro veterano, o co-roteirista Jean-Claude Carrière, Garrel constrói um drama romântico isento de idealização ingênua. Nesse sentido, o amor pode ser sincero, mas isso não impede que provoque danos a quem ousa vivê-lo. De fato, a jovem Jeanne ama tão intensamente seu namorado que não suporta o rompimento, o que quase resulta em tragédia. Apesar de amar Gilles, Ariane é incapaz de resistir ao ímpeto sexual, e se entrega facilmente diante de qualquer investida. É assim, aliás, com um encontro furtivo no banheiro da universidade que nasce o amor com o professor, como mostra o prólogo do filme.
As duas jovens, apesar de terem a mesma idade, possuem posições opostas em relação ao amor. Por um lado, Jeanne acredita no relacionamento monogâmico, e não desiste da ideia do parceiro para a vida toda. Por outro, Ariane quer o relacionamento aberto que Gilles promete lhe dar, mas que ele acaba não suportando. Assim, a sequência da boate, para onde as duas vão para se divertir sem Gilles, espelha essa dicotomia. Enquanto Jeanne dança somente com um rapaz, sem lhe ceder um beijo, Ariane baila sensualmente com diferentes rapazes.
Amor e tragédia
A fotografia em preto e branco de Amante Por Um Dia enfatiza uma proposta de correspondência a Truffaut, apesar de este ter dirigido filmes coloridos também. O que é certo é que as narrações inseridas em algumas cenas, aproximando o cinema da literatura, compele um déjà-vu inevitável para quem conhece a obra de Truffaut, visto ser essa uma característica marcante de sua cinegrafia. Aliás, o tema do amor vivido por pessoas comuns, sob uma perspectiva extremamente humana, remete instintivamente a seus filmes. O diferencial é que Garrel surpreende no final ao escolher o amor de Jeanne como o duradouro e não o de Ariane e Gilles. Se fosse obra de Truffaut, o epílogo fatalmente refletiria uma tragédia causada pelo amor.
Ficha técnica:
Amante Por Um Dia (L’amant d’un jour, 2017) França, 76 min. Dir: Philippe Garrel. Rot: Jean-Claude Carrière, Caroline Deruas-Garrel, Philippe Garrel, Arlette Langmann. Elenco: Éric Caravaca, Esther Garrel, Louise Chevillotte, Paul Toucang, Félix Kysyl, Michel Charrel, Nicolas Bridet, Marie Sergeant.
Assista: entrevista com Philippe Garrel sobre Amante Por Um Dia