Após surpreender positivamente com as ficções-científicas de terror Um Lugar Silencioso (2018) e sua sequência de 2020, o roteirista e diretor John Krasinski acerta novamente no filme de fantasia Amigos Imaginários (IF), voltado ao público infantil. Com isso, mostra evidências de ser um talentoso cineasta de gênero. Ainda é uma afirmação prematura, falta ele trabalhar em outros tipos de filmes, mas o balanço até agora é favorável.
Uma constatação vital é que Krasinski sabe provocar emoções. Causou arrepios nos filmes dos alienígenas mortais que se guiam pelo som. Agora, enche a tela de ternura ao lidar com o tema da criança interna que os adultos perdem no amadurecimento.
Os novos amigos de Bea
Amigos Imaginários acompanha Bea (Cailey Fleming), menina de 12 anos que vai passar alguns dias no apartamento da avó (Fiona Shaw), enquanto o pai (John Krasinski) está internado no hospital para uma cirurgia cardíaca. A situação se assemelha ao verão que ela passou ali, quando tinha uma idade mais tenra e a mãe morria de câncer.
Eis que Bea vê no prédio uma criatura diferente, uma menina cartunesca, e a persegue. Descobre que Cal (Ryan Reynolds), o vizinho do andar de cima, está metido com dois desses bichos, que são amigos imaginários que se sentem órfãos porque as crianças que as criaram cresceram e não se lembram mais deles. Para entender melhor esse problema e poder ajudá-los, Cal apresenta Bea a um lugar secreto num parque de diversões onde vivem vários amigos imaginários na mesma situação. Bea, então, ganha a incumbência de encontrar novas crianças para eles. Porém, descobre que a melhor solução é despertar a criança adormecida nos adultos.
O visual do filme mantém o costumeiro colorido vibrante das produções infantis. Dessa forma, os variados tipos de animais imaginários (alguns parecem bichos de pelúcia, outros são feitos de madeira, ou remetem a diversos brinquedos, como gelecas – enfim, a criatividade estava fluída ao elaborarem essas divertidas criaturas), podem interagir com as pessoas de carne e osso de forma convincente.
Destaca-se a longa sequência dentro do mundo oculto do parque de diversões. Bea e Cal percorrem múltiplos cenários, um mais maluco que o outro. Nesse lugar, a lógica do mundo real dá a vez para a maluquice de um cartoon.
Calvin e Harvey
O filme, além disso, traz algumas referências a obras que tocam no conceito do amigo imaginário. A TV da casa da avó, por exemplo, transmite o filme Meu Amigo Harvey (1950), de Henry Koster, no qual James Stewart tem um coelho invisível. Em outra cena, de relance, se pode ver a capa de uma revista do “Calvin e Haroldo” (Calvin and Hobbes), quadrinhos onde um menino tem um tigre como amigo invisível, e que deu inspiração para o nome do personagem de Ryan Reynolds.
O enredo ainda guarda uma surpresa para o final, que permite uma segunda visita ao filme com uma nova perspectiva. Esse efeito, aliás, lembra bastante o de O Sexto Sentido (1999), de M. Night Shyamalan. No entanto, a maior força do filme reside na emoção resultante dos arcos de vários personagens, todos concluídos a contento.
Mais um belo trabalho de John Krasinski como diretor e roteirista. Apostas feitas, vamos aguardar o que ele ainda tem a oferecer.
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Ficha técnica:
Amigos Imaginários | IF | 2024 | 104 min | EUA | Direção: John Krasinski | Roteiro: John Krasinski | Elenco: Ryan Reynolds, Cailey Fleming, John Krasinski, Phoebe Waller-Bridge, Fiona Shaw, Steve Carell, Louis Gossett Jr., Alan Kim.
Distribuição: Paramount Pictures.
Trailer: