Amor Bandido mergulha no submundo da prostituição e do crime da noite carioca. É o oposto do ensolarado filme anterior do seu diretor, Bruno Barreto, que obtivera um sucesso estrondoso com o divertido Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976). De fato, essa diversificação marcará sua filmografia nas décadas subsequentes.
Os personagens de Amor Bandido vivem no limite; não falam, gritam agressivamente um com o outro. A protagonista, Sandra (Cristina Aché), foi expulsa de casa pelo pai porque saía com os rapazes da rua. Então, virou prostituta, dançarina em uma boate, e não aceita a tentativa de reaproximação do pai, o Inspetor Galvão (Paulo Gracindo). Este, já velho e prestes a se aposentar, sofre com essa amargura que não se resolve. Não que ele aceite a filha como é, mas se sente na obrigação de atender o último desejo de sua esposa antes de morrer.
O outro protagonista, também nervoso, Toninho (Paulo Guarnieri), entra na vida de Sandra. Os dois jovens se apaixonam, apesar da brutalidade do rapaz. Toninho também viveu da prostituição, saindo com homens e travestis, mas alega que mudou de vida.
Em paralelo a esse drama romântico, o filme acompanha uma série de assassinatos de taxistas. Já são quatro vítimas, todas mortas dentro do táxi e abandonadas com o vidro fechado e o rádio ligado. O Inspetor Galvão é um dos responsáveis pela investigação, e a polícia sofre forte pressão da população para resolver o caso.
Clima noir
A narrativa de Amor Bandido acerta no timing da revelação do criminoso. Justamente quando desconfiamos quem é o serial killer, o filme revela sua identidade para nós. Se demorasse um pouco mais, acusaríamos o roteiro de ser muito óbvio.
A partir daí, nos perguntamos qual será o desfecho. Assistiremos a um novo Bonnie e Clyde (1967)? O desfecho tomará outro rumo, bem menos romantizado, mas com uma emboscada similar.
O tom de Amor Bandido se aproxima do filme noir. O meio sórdido da trama, os personagens perdidos, o final sem esperanças, tudo isso se conecta com o espírito noir. Ao final dessa jornada, a personagem principal Sandra continua uma perdedora. De fato, até pior do que quando a história começou. A relação com o pai se deteriorou de vez, a esperança de amor se provou uma mera ilusão. Além disso, ela agora carrega mais um peso na consciência.
Por outro lado, hoje esse filme do final dos anos 1970 apresenta uma nostalgia cativante. A trilha sonora traz várias canções disco, que era a febre da época. Ademais, muita música de Roberto Carlos, que ainda aparece em clipes e em trecho de um de seus filmes. Até mesmo o seriado Kojac (1973-1978) surge na televisão que os policiais assistem na delegacia. Por fim, numa referência curiosa, vemos o letreiro de um cinema exibindo o filme Chuvas de Verão (1978), que também conta com Cristina Aché no seu elenco.
Amor Bandido resgata esse gosto amargo de uma época sufocada pela ditadura militar, pelo preconceito fortemente arraigado que tentava frear as mudanças de comportamento. Esse mesmo sabor continuará em O Beijo no Asfalto (1981), o filme seguinte de Bruno Barreto, transportado para a capital paulista. Enfim, são dois filmes fortes e imperdíveis.
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Ficha técnica:
Amor Bandido | 1979 | 95 min | Brasil | Direção: Bruno Barreto | Roteiro: José Louzeiro, Leopoldo Serran | Elenco: Paulo Gracindo, Cristina Aché, Paulo Guarnieri, Ligia Diniz, Flávio São Thiago, Hélio Ary, Vinícius Salvatori, José Dumont.