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O Beijo no Asfalto (filme)
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O Beijo no Asfalto

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

O filme O Beijo no Asfalto é uma primorosa adaptação para o cinema da peça de Nelson Rodrigues, realizada pelo diretor Bruno Barreto.

Habilmente, o filme consegue retratar a homofobia ao mesmo tempo que coloca a dúvida em todos, até no espectador, sobre as intenções de Arandir (Ney Latorraca). Esse personagem beija na boca um homem que estava à beira da morte na rua, após ser atropelado por um ônibus.

Segundo o próprio Arandir, o homem pediu o beijo e ele apenas consentiu por piedade. Porém, Amado Pinheiro (Daniel Filho), um jornalista mal-intencionado, lança suspeita de um crime passional e publica na capa da edição do dia seguinte. O repórter quer, assim, desviar a atenção do público das acusações de tortura que o seu amigo, um delegado de polícia, está enfrentando.

Como resultado, a notícia muda completamente a vida de Arandir. De fato, no trabalho e na vizinhança, todos caçoam dele, chamando-o de “viado”. Até mesmo em casa, pois sua esposa Selminha (Christiane Torloni) também fica balançada sobre as preferências sexuais do marido.

E sua família é disfuncional. Dália (Lídia Brondi), a caçula de Selminha que mora com o casal, é apaixonada por Arandir. Paralelamente, o pai delas nunca aceitou bem o casamento, aparentemente odiando o genro porque se sente atraído pela filha.

Análise do filme

O Beijo no Asfalto segue num ritmo frenético, com várias situações distintas se sucedendo, sempre em direção à condenação pública de Arandir. Aliás, até mesmo a viúva do morto aceita declarar que seu marido tinha um caso com um homem, para evitar que o repórter publique que ela tem um amante.

Antes de mais nada, vale apontar que a história se passa no início dos anos 1980, quando a ditadura estava se dissolvendo, mas seus reflexos ainda eram sentidos. Nesse sentido, o delegado Cunha (Oswaldo Loureiro) personifica a prática de restringir os direitos humanos. Ele, junto com o jornalista, leva Selminha à força para um interrogatório fora da delegacia, abusando dela.

Além disso, a brutalidade moral e física na trama é enfatizada pela belíssima trilha sonora, composta por Guto Graça Mello. Aliás, a música marca presença constante e muito forte, elevando a dramaticidade das cenas. E a sua sonoridade aponta para uma poesia inesperada, tão surpreendente quanto a conclusão de O Beijo no Asfalto. Assim, a última cena remete à origem teatral da estória, quando os personagens permanecem estáticos na posição em que encerram suas participações, tendo ao fundo os Arcos da Lapa, no Rio de Janeiro.

Por fim, essa conclusão se junta ao quadro congelado que estampa os créditos iniciais do filme. Esse frame traz uma criança testemunhando, pela janela do ônibus, a cena do atropelamento que dá origem à estória. Sua percepção inocente, manchada pelo sangue que espirrou no vidro à sua frente, talvez se assemelhe à que motivou Arandir a beijar o moribundo.  


O Beijo no Asfalto (filme)
O Beijo no Asfalto (filme)
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