“Angel-A” começa em belo estilo. Há a narração em off, sobre fundo preto, e logo a figura do protagonista aparece, em imagem congelada, enquanto o fundo mostra névoas se movimentando. André Moussah se apresenta, como se fosse estivesse tudo bem com ele. Porém, no momento em que o fundo fica nítido, um soco acerta o rosto do personagem, deixando claro que o que ele narrava era balela. Ele deve dinheiro e sua vida corre perigo.
Tenta auxílio na embaixada norte-americana, mas ele, um estrangeiro com green card com ficha suja não merece voltar para a terra do Tio Sam. Pede em uma delegacia para ser preso, porém, é chutado para fora pela polícia com violência. Desesperado, resolve pular de uma das pontes sobre o Rio Sena. Surge, então, uma linda mulher ao seu lado, que salta antes que ele. André mergulha e a resgata. Os dois passam a andar juntos, e, em certo momento, ela revela ser um anjo, que recebeu a missão de salvá-lo. Ela precisará resgatar o amor próprio que André perdeu.
Elenco
Os dois atores cabem perfeitamente em seus papéis. Jamel Debbouze é mirrado, não é bonito, e transmite a falta de confiança de André. Rie Rasmussen é alta, belíssima, e com postura firme e segura de si. São praticamente os dois contracenando o tempo todo. O contraste entre eles resulta em uma química perfeita para o que o filme propõe. No final, Angel-A também aprenderá com André, em uma cena comovente, que comprova que a atriz deveria investir mais na carreira no cinema. Incrível como este é apenas o segundo longa-metragem dela, sete anos depois de “Femme Fatale”, de Brian De Palma.
Direção
A fotografia em preto e branco é exuberante, com acentuado contraste. Luc Besson extrai o máximo da beleza de Paris, filmando à noite nas ruas vazias da cidade. Repare na sucessão de enquadramentos fascinantes, como aquele aproveitando o arco de uma das pontes, após o primeiro encontro de André e Angel-A. Outra imagem icônica, esta por conta do recurso da justaposição, surge quando Angel-A se posiciona ao lado de uma estátua e a posição da câmera encaixa as asas dessa figura nas suas costas.
Afinal, Besson conhece a gramática cinematográfica. Sabe quando e como movimentar a câmera. Cortes sucessivos e câmera tremulante enquanto Angel-A dança em busca de clientes, e André se embriaga. Câmera que acompanha o ator enquanto ele corre pelas ruas procurando Angel-A, com quebra de linearidade e giro ao redor dele. Nada gratuito, e sim com objetivo narrativo.
Além disso, não há muita trilha sonora, a música de fundo surge em momentos em que ela é necessária, uso regulado que causa o impacto grandioso do desfecho em grande estilo. A música acompanha a situação transcendental da estória, que remete ao argumento de “Asas do Desejo” (Der Himmel Über Berlin, 1987). No filme de Besson, o anjo também se apaixona por um mortal, mas há um forte enfoque no resgate da autoestima. Não é necessário, porém, acreditar em anjos. “Angel-A” não é sobre religião, é uma fantasia usada como ponte para conectar sentimentos universais.
Ficha técnica:
Angel-A (Angel-A, 2005) França, 91 min. Dir/Rot: Luc Besson. Com Rie Rasmussen, Jamel Debbouze, Gilbert Melki, Serge Riaboukine, Akim Chir, Eric Balliet, Loic Pora, Venus Boone, Jérome Guesdon, Michel Bellot, Michel Chesnau, Olivier Claverie, Solange Milhaud.
Assista: entrevista com Luc Besson e Rie Rasmussen