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Clamor do Sexo (filme)
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Clamor do Sexo

Avaliação:
10/10

10/10

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Crítica | Ficha técnica

“Clamor do Sexo”: Paixão e sexo reprimidos em um melodrama comovente

“Clamor do Sexo” é um dos melhores melodramas românticos do cinema. Dirigido com maestria por Elia Kazan, o filme é estrelado explosivamente pelos jovens Natalie Wood e Warren Beatty.

Para um público que se acostumou com as restrições moralistas do Código Hays, “Clamor do Sexo” chocava. Afinal, coloca já na primeira cena o casal no fim da adolescência se beijando sensualmente enquanto namoram dentro de um carro. Aliás, beijos quentes não faltarão no filme, mas Wilma Dean (Wood) não deixa ir além disso, já que ela obedece as severas ordens de sua protetora mãe. Por isso, Bud (Beatty) se revolta com essa situação. Porém, seu pai (o dominador Ace Stamper) o repreende constantemente para que tome cuidado para não engravidar. De acordo com ele, isso poderia estragar o futuro que planejou para o filho.

A trama do filme

É 1928, em Kansas, e o Sr. Stamper enriqueceu com extração de petróleo em suas terras.  Um pouco antes da Grande Crise Econômica, ele se sente poderoso com o dinheiro que possui.

Eventualmente, o celibato forçado de Wilma Dean e Bud coloca-os à beira de explodirem. De fato, a garota entra em choque constantemente com a mãe, em discussões escandalosas. Ao mesmo tempo, o rapaz não consegue expressar suas vontades ao pai, que interrompe suas falas para ditar os seus planos de prosperidade em relação ao filho. Então, Bud desiste de se casar apressadamente com Wilma Dean. E acaba aceitando entrar para a Universidade Yale, onde ficaria quatro anos longe da namorada. Além disso, aceita o conselho de seu pai. Assim, busca satisfazer seus desejos voluptuosos com uma garota mais liberada. Esta é a colega de classe de Deanie, Juanita (Jan Norris, fisicamente semelhante com Molly Ringwald, a estrela das comédias de John Hughes dos anos 1980).

Como resultado, o rompimento da relação apaixonada do casal central provoca uma das cenas mais comoventes do cinema sobre desilusão amorosa. Quando Deanie lê o poema “Splendor in the Grass”, que é o título original do filme, a conexão com o drama que ela atravessa a leva posteriormente a um colapso nervoso. Dessa forma, ela se condena a viver em uma clínica psiquiátrica. A atuação de Natalie Wood nessa sequência é de uma intensidade assombrosa. Definitivamente, sentimos toda a angústia represada em seu peito explodindo em desespero.

A direção de Elia Kazan

Em outro aspecto, o diretor Elia Kazan demonstra sua genialidade na linguagem visual em “Clamor do Sexo”. Por exemplo, a opressão que Wilma Dean sente está estampada na cena em que ela chega em casa após namorar no carro com Bud. Logo a vemos no fundo da sala, com o lustre da sala de jantar em primeiro plano exatamente sobre ela, como que a achatando e a reprimindo. Em outro momento, o domínio da mãe de Deanie fica explícito em uma cena já quando ela retorna da clínica e se coloca entre a filha e o pai, que conversavam.

Considerando que a sexualidade em ebulição de Deanie e Bud precisa ser constantemente controlada por eles, Kazan simboliza essa restrição com imagens de correnteza com água gelada, mergulho na banheira e banhos de ducha. E, um pouco antes da cena do poema, na sala de aula, vemos Juanita, radiante, em primeiro plano, e Deanie na cadeira de trás. Ela fica em segundo plano, claramente fragilizada, já revelando o quanto Wilma Dean estava prestes a desabar mentalmente.

Posteriormente, Deanie deseja se comportar mal, pois ser pudica levou à perda de seu namorado. Então, na sequência da festa, quando ela quer extravasar seu lado sexual, o diretor Kazan a transforma fisicamente. Nesse sentido, é como se vestisse uma fantasia, o que, tradicionalmente, é o expediente para as pessoas agirem como se não fossem elas mesmas (como acontece no Carnaval). Nesse intuiro, ela corta seu cabelo, põe um vestido decotado em cor fortemente vermelha, e muita maquiagem. E ainda entoa a canção que a irmã biscate de Bud gostava.

Mais destaques da direção

Nesse meio tempo, acontece a explosão da bolha que desencadeou a Grande Crise Econômica de 1929. Assim, isso é representado no filme por uma bexiga marcada com o número “1928” que estoura na festa de fim de ano. De fato, a fartura e os exageros desta celebração logo contrastariam com o difícil período que estava por vir.

Em outra bela sequência, Wilma Dean está prestes a sair da clínica, após dois anos e meio de tratamento. Então, na entrevista final com o psiquiatra, um grande relógio está em primeiro plano no enquadramento. Assim, deixa os dois personagens conversando em posição menor. Como o grande remédio para a melhora de Deanie foi o tempo, isto é simbolizado por esse relógio. Mas, mesmo assim, ela ainda não está completamente estável, e o médico a confronta para que ela se encontre novamente com Bud. Segundo ele, só assim ela poderá superar o trauma que causou sua perturbação. Então, Kazan representa esta cena enquadrando Deanie entre a porta e a parede do consultório, uma metáfora da inevitabilidade dessa situação.

E mais uma cena emblemática se encontra na parte final do filme. Quando Deanie está em seu antigo quarto, ela encara a penteadeira onde estavam várias fotos de Bud. No lugar das fotos, agora restam apenas as marcas na parede. Simultaneamente, o enquadramento exibe o espelho daquele móvel, mas nele vemos o corpo da garota só até o pescoço. Como simbolizado, o antigo amor não pode simplesmente sumir de sua vida, e ela percebe que precisa revê-lo para se curar completamente.

Conclusão

Enfim, este emocionante romance possui forte conexão com o gênero melodrama, que explora a disfuncionalidade da sociedade aparentemente perfeita. De fato, a opressão da família, tanto de Deanie quanto de Bud, provoca profundas mágoas nos filhos. Como conseguência, pode até levar à insanidade ao bloquear os impulsos naturais e impedir o desenvolvimento do amor entre dois apaixonados. O roteiro é de William Inge, autor também de “Férias de Amor” (Picnic, 1955) e “Nunca Fui Santa” (Bus Stop, 1956), entre outros sucessos com temas ligados ao sexo. Inge faz uma clara alusão crítica ao Código Hays, mostrando o quanto esse moralismo exagerado da sociedade norte-americana era prejudicial. Essas regras, dos próprios estúdios, cairia por terra em 1968.


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