O documentário Angelhead Hipster: The Songs of Marc Bolan & T. Rex toma como linha central de sua narrativa as gravações do álbum-tributo homônimo, gravado em homenagem a um dos criadores do glam-rock. O álbum duplo traz diversos artistas tocando suas versões das composições de Marc Bolan. Entre eles, Nick Cave, U2, Elton John, Maria McKee, Joan Jett, Nena. Estes são alguns dos artistas que deram seus depoimentos para o filme e que podemos ver em sessões no estúdio para o registro das músicas. Alguns outros talentos também gravaram depoimentos, como o vocalista do Def Leppard, Joe Elliott, e o cineasta Cameron Crowe.
Devido a essa diversidade de declarações, que inclui também as de Rolan Bolan, o filho de Marc Bolan com Gloria Jones, e outros músicos e técnicos que conviveram ou que simplesmente apreciavam o retratado, o documentário oscila entre momentos de maior ou menor interesse. Tudo depende muito do que cada um tem para dizer.
Altos e baixos
Entre os pontos altos, estão entrevistas que o próprio Marc Bolan gravou para vários programas televisivos. Falando com uma sinceridade ímpar, o músico quebrava o marasmo desmentindo notícias e revelando uma atitude autêntica. Ganham relevância, da mesma forma, as falas de David Bowie, que teve um relacionamento muito íntimo com Bolan. A forte amizade entre os dois, mostra o filme, sofreu abalos na disputa estimulada pela imprensa britânica em relação a quem foi o pioneiro do glam rock. Mas a reconciliação veio alguns anos mais tarde.
Outro dos pontos fortes de Angelhead Hipster: The Songs of Marc Bolan & T. Rex é o enredo que foge do tradicional formato cronológico das cinebiografias. Ao invés disso, a narrativa ganha fluidez ao contar a história do retratado conforme mergulha nas inspiradas letras das composições de Marc Bolan, tanto para sua carreira solo como para o T. Rex. Assim, uma das mais poeticamente autobiográficas, “Cosmic Dancer” (gravada por Nick Cave, a melhor versão do álbum-tributo), serve de gancho para mostrar fotos raras de Bolan na infância. Emblematicamente, “Children of the Revolution” fecha o filme como o legado do músico, materializado na escola que sua viúva Gloria Jones fundou em Serra Leoa, país no Oeste Africano.
Aliás, no aspecto técnico, nem sempre o filme identifica quem está prestando o depoimento, uma inconstância que incomoda muito. À primeira vista, o critério parecia ser se a pessoa dispensava apresentações; por exemplo, o Bono do U2; o que seria um bocado subjetivo. Afinal, dispensa apresentações para quem? Mas, nem mesmo esse critério se sustenta.
Inovador
Pouco antes dessa conclusão, Gloria Jones conta sobre os últimos anos de Marc Bolan, que morreu em um acidente automobilístico aos 29 anos em 16 de setembro de 1977. O relato, junto com o que vimos antes durante o filme, reforça a ideia de que Bolan foi um artista inovador. Além do glam rock, ele ajudou a abrir as portas para o punk, e flertava com a disco music.
O documentário, escrito e dirigido por Ethan Silverman, está na programação do festival In-Edit Brasil 2023. Como declarou Isaac Hoff, um dos produtores do longa, na sessão comentada do dia 18 de junho, Angelhead Hipster: The Songs of Marc Bolan & T. Rex tem como objetivo principal tornar Marc Bolan universalmente conhecido. Embora o filme tenha altos e baixos, esse objetivo está cumprido, principalmente pelos depoimentos de Bolan e por não se restringir apenas às suas composições mais conhecidas.
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Ficha técnica:
Angelhead Hipster: The Songs of Marc Bolan & T. Rex | 2023 | EUA | 97 min | Direção e roteiro: Ethan Silverman | Com Richard Barone, Marc Bolan, Rolan Bolan, David Bowie, Nick Cave, Joan Jett, Elton John, Gloria Jones, John Cameron Mitchell, Ringo Starr, Hall Willner, Joe Elliott, Cameron Crowe.