O filme Anna leva para as telas uma relação abusiva nos bastidores do teatro.
A trama
Após dez anos, o renomado diretor Arthur tenta novamente encenar uma produção de “Hamlet”, de Shakespeare. Assim, a trama se inicia na escolha do elenco. De imediato, se evidencia o método controverso do diretor, extrapolando os limites do aceitável em sua exigência rigorosa. Por exemplo, ao demitir o ator que faria o papel principal, ele o humilha e o expulsa a gritos.
Então, para interpretar a protagonista Ofélia, ele aposta em Anna, uma escolha improvável por sua falta de experiência e personalidade retraída. Mas, ele a elege como sua musa e a trata com uma dedicação cordial. Com isso, ela se desenvolve e cresce como atriz. No entanto, Arthur deixa crescer seu desejo por Anna, e começa a tratá-la com agressividade, após vê-la ficando com outro numa festa.
Essencialmente, esta é a história de um Pigmalião mal-intencionado. Em certos aspectos, dialoga com Cisne Negro (2010), de Darren Aronofsky que se passa no ambiente do balé profissional. Porém, sem o aspecto fantástico e aterrorizante do filme de Aronofsky.
Compulsão
No processo, Arthur se aproxima da loucura, perturbado pela sua compulsão em moldar a atriz jovem a seu bel-prazer. Porém, chega um momento em que esse assédio se torna insuportável. Por isso, Anna prova sua força de mulher, e não de menina, ao seduzir e humilhar, ao seu modo, o diretor. Apesar disso, ele não muda seu comportamento, e Anna apenas perpetua o ciclo que a atual assistente de direção já foi vítima dez anos antes.
O enredo não guarda surpresas, mas a direção é talentosa, apresentando belos enquadramentos, montagem ágil e, principalmente, ótimas atuações de Boy Olmi e Bela Leindecker nos papeis principais. O responsável é o diretor pernambucano Heitor Dhalia, de O Cheiro do Ralo (2006) e Tungstênio (2018), entre outros.
Enfim, o filme Anna é um deleite para quem trabalha no teatro, em especial, os atores, que podem se identificar com as personagens da história. Além disso, o longa retrata a forte amizade dentro da companhia, um mundo à parte que compartilha uma profissão que demanda um enorme esforço emocional.
