Poster de "Aos Pedaços"
[seo_header]
[seo_footer]

Aos Pedaços

Avaliação:
6,5/10

6,5/10

Crítica | Ficha técnica

O cinema narrativo em Aos Pedaços, de Ruy Guerra, se restringe à introdução. Uma voz em off, de Arnaldo Antunes, situa a história. Eurico Cruz (Emilio de Mello) tem duas mulheres, de aparências semelhantes e com o mesmo nome, mas com grafias diferentes. Uma se chama Ana (Simone Spoladore) e a outra Anna (Christiana Ubach). As duas vivem em casas absolutamente idênticas, uma no deserto e a outra numa praia. Eurico está perturbado porque recebeu um misterioso bilhete assinado com um “A” que anuncia sua morte.

Daí para frente, o filme se afasta do narrativo e entra no sensorial. A voz em off chega a dialogar com Eurico, mas seu principal interlocutor passa a ser Eleno (Julio Adrião), a versão humana da lagosta que mantém em um aquário. Essa figura, criada na mente do protagonista, tenta ajudá-lo a apaziguar suas inquietações e suspeitas. Com o rosto quase sempre escondido pelas sombras (o filme ostenta uma belíssima fotografia de Pablo Baiãoem contrastante preto e branco), Eleno fala como um pregador religioso. E tenta espantar os demônios que atormentam Eurico, materializados em uma criatura nas sombras, formada por várias pessoas aglutinadas como num monstro lovecraftiano.

Sentir o filme

Eurico encontra suas mulheres – em alguns trechos, até com as duas ao mesmo tempo. Elas também conversam entre si, dando a impressão de que são mais aliadas do que rivais. Através dos personagens iluminados com ofuscante luz branca, contrapondo-os com o cenário preto, recitando diálogos próprios de literatura, o filme mergulha o espectador nas suas emoções.

A sequência sem cortes do processo de maquiagem das duas mulheres lado a lado, cada uma em sua penteadeira, caracteriza bem o estilo do filme. Elas possuem seus momentos individuais, mas seus comportamentos se espelham. Primeiro Ana, depois Anna, se enfeiam enquanto se maquiam, o que originalmente deveria produzir o efeito inverso. Explica-se, não é o exterior que conta, mas o fato de viverem um dilema interno nessa relação a três.

Contudo, esse exercício de buscar explicações no filme deve ser evitado. Não é a intenção de Ruy Guerra e esse caminho pode levar a qualquer conclusão. A solução do mistério, na verdade, nem surpreende, por ser previsível. O essencial nessa experiência é sentir as emoções dos personagens. Nesse processo, o elenco entrega um trabalho incrível, que possibilita que os sentimentos fluam da tela para a plateia. Quem embarcar nesse jogo apreciará Aos Pedaços.

___________________________________________

Ficha técnica:

Aos Pedaços | 2020 | 93 min. | Brasil | Direção: Ruy Guerra | Roteiro: Ruy Guerra, Luciana Mazzotti | Elenco: Emilio de Mello, Simone Spoladore, Christiana Ubach, Julio Adrião.

Distribuição: Pandora Filmes.

Trailer aqui.

Simone Spoladore e Christiana Ubach em "Aos Pedaços" (divulgação)
Simone Spoladore e Christiana Ubach em "Aos Pedaços" (divulgação)
Compartilhe esse texto:

Críticas novas:

Rolar para o topo