O filme Aranha é uma assustadora ficcionalização das ações da Frente Nacionalista Patria y Libertad, grupo político fascista que lutou contra o governo socialista de Salvador Allende no Chile.
Assim, novamente o seu diretor Andrés Wood, revisita esse importante período histórico, o mesmo de seu filme Machuca (2004).
Passado e presente
A narrativa intercala dois momentos. Um deles abarca o início dos anos 1970, quando o casal Inés e Justo conhece o violento Gerardo, e os três jovens atuam como membros importantes da FNPL. O grupo de extrema direita ganhou o apelido de “Aranha” por causa de seu logotipo.
Em paralelo, a greves, sabotagens e atentados, surge um triângulo amoroso, com uma forte paixão entre Inés e Gerardo. Este, menos instruído que o sofisticado Justo, era quem, na prática, sujava as mãos nos atos do grupo. Inclusive, ele passa um tempo isolado na mata e comete um assassinato que o separa dos dois amigos.
O outro momento da narrativa traz a realidade dos três protagonistas hoje. Ainda impetuoso e letal, Gerardo vira notícia ao atacar um ladrão de bolsas na rua. Inés, agora uma influente empresária, faz de tudo para que sua antiga paixão cumpra uma pena mais leve. Enquanto isso, seu marido Justo se tornou um alcoólatra imprestável, que se vangloria de ter salvado o Chile do comunismo.
Um olhar infiltrado
Ao mostrar a história pela perspectiva desses protagonistas, Aranha revela os bastidores de um violento grupo de extrema direita. Até a sua última parte, o filme não julga esses personagens, o que torna o relato ainda mais contundente. E, mesmo após 40 anos, Inés e Justo continuam a crer que tomaram a posição correta ao contribuir para o golpe que derrubou o presidente Salvador Allende. É compreensível que eles pensem assim, pois o casal sempre aproveitou o melhor lado do capitalismo. Já eram ricos e ficaram ainda mais, como comprova a luxuosa casa onde moram.
A posição do filme
Porém, o filme de Andrés Wood não concorda com essa visão de extrema direita. Primeiro, ao escancarar o outro lado do sistema capitalista, ou seja, o da pobreza. De fato, isso fica evidente nas ruas suburbanas do início da trama. Segundo, ao escancarar o tráfico de influências perpetrado por Inés, que deturpa o sentido da justiça. Por fim, no desfecho violento do atentado xenófobo de Gerardo, que assim comprova ser o psicopata que sempre foi.
Por não revelar de cara sua posição, Aranha incomoda até a sua parte final. Então, quando fica evidente que os protagonistas são os anti-heróis dessa história, o filme acaba por acalmar a moralidade do espectador.
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Ficha técnica:
Aranha | Araña | 2019 | Chile, Argentina, Brasil | 105 min | Direção: Andrés Wood | Roteiro: Andrés Wood & Guillermo Calderón | Elenco: Mercedes Moran, María Valverde, Marcelo Alonzo, Pedro Fontaine, Caio Blat, Gabriel Urzúa, Felipe Armas, María Gracia Omegna.
Distribuição: Pandora Filmes.
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