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As Lágrimas Amargas de Petra von Kant (filme)
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As Lágrimas Amargas de Petra von Kant

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

As Lágrimas Amargas de Petra von Kant: o melodrama dilacerante de Fassbinder.

No filme, a profissão da protagonista já diz bastante sobre a sua personalidade. Petra von Kant (Margit Carstensen) é uma famosa estilista de moda, portanto valoriza muito a beleza exterior. Isso vale tanto para si mesma (ela se maquia, veste roupas fashion, alterna perucas) quanto para o que ela vê nos outros. Assim, não é por acaso que ela se apaixona rapidamente pela bela Karin (Hanna Schygulla), apresentada pela sua melhor amiga, a também bonita Sidonie (Katrin Schaake). Enquanto isso, ignora o verdadeiro amor da sua assistente Marlene (Irm Hermann). E essa miopia causa a ruína de Petra.

Por outro lado, Marlene, sempre presente, observa calada (ela não tem nenhuma fala durante o filme todo) a sua patroa amada. Ela enxerga o verdadeiro caráter de Petra, e se surpreende como ela se deixa encantar tão facilmente pela beleza de Karin, o que fica claro quando ela para de datilografar para testemunhar Petra contar como perdeu o marido dela. Mas Petra trata Marlene com rispidez, aproximando-a quando lhe convém, no entanto, rechaçando-a como uma mera empregada na maior parte do tempo. E ainda com grosseria, o que hoje seria considerado assédio moral. O diretor Rainer Werner Fassbinder escolhe enquadramentos que ilustram essa situação. Aproveitando-se da arquitetura da casa, o diretor coloca Marlene em cantos, aprisionada debaixo de estruturas ou mesmo de partes do corpo de Petra. Em alguns casos, até em posição fisicamente inferior.

O cenário de teatro

Além disso, o uso do cenário fortalece o tema do filme, que se passa inteiramente dentro da casa de Petra, e somente no cômodo principal, que envolve o quarto e alguns anexos no mesmo espaço. Isso enfatiza o egocentrismo da protagonista, que não sai para visitar ninguém, pois espera que as pessoas a visitem, sem contar o sentido emblemático dessa concentração física.

O cenário único resulta também na teatralidade, ainda mais com a ênfase nas falas das personagens (todas mulheres). A verborragia, porém, nunca cansa, pois possui profundidade, aqui não há conversa banal. E a direção talentosa de Fassbinder transforma a restrição física em desafio para afastar a passividade de um espectador no proscênio. Para isso, movimenta a câmera em dolly, utiliza o zoom e, mesmo mantendo-a estática, posiciona-a para obter enquadramentos não só belos como significantes. Em muitos casos, coloca alguma coisa em primeiro plano, e deixa os personagens atrás, construindo, assim, imagens essencialmente cinematográficas.

As Lágrimas Amargas de Petra von Kant, em suma, se utiliza da forma rebuscada para contar um melodrama profundo. Um filme paradigmático da obra de Fassbinder.

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Ficha técnica:

As Lágrimas Amargas de Petra von Kant | Die bitteren Tränen der Petra von Kant | 1972 | 124 min | Alemanha Ocidental | Direção e roteiro: Rainer Werner Fassbinder | Elenco: Margit Carstensen, Hanna Shygulla, Katrin Schaake, Eva Mattes, Gisela Fackeldey, Irm Hermann.

As Lágrimas Amargas de Petra von Kant (filme)
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