Assim Estava Escrito
é o Crepúsculo dos Deuses de Vincente Minnelli. O filme quebra a fase inicial da carreira do diretor, conhecido até então por musicais e comédias, e tece um retrato crítico sobre os bastidores de Hollywood.
Jonathan Shields (Kirk Douglas), herdeiro de um poderoso produtor, se encontra falido e busca a colaboração de três artistas cujas carreiras nasceram com a sua ajuda. Ele deseja contratá-los para seu próximo filme, pois os seus nomes, hoje famosos, atrairão o investimento necessário para a produção. Porém, os três recusam a oferta porque todos têm um motivo para se sentirem traídos por Shields.
As três recusas
Então, acompanhamos uma genial estrutura narrativa para entendermos essas situações. Reunidos pelo produtor Harry Pebbel (Walter Pidgeon), que ainda continua leal a Shields, os três contam, um de cada vez, a história que gerou a discórdia. O roteiro aproveita essa oportunidade para alinhar os relatos na ordem cronológica dos fatos, e o bacana é que são blocos onde esses três personagens ainda não se conhecem.
Primeiro, o diretor Fred Amiel (Barry Sullivan) conta como começa sua carreira junto com a de Shields, realizando filmes B. A mágoa surge quando o produtor resolve contratar outro diretor, mais experiente, justamente no momento que conseguem aprovar um orçamento mais alto, sem dar créditos a Amiel.
Em seguida, acompanhamos o relato da atriz Georgia Lorrison (Lana Turner), que só ganha seu primeiro papel principal por insistência de Shields. E ele a mantém contratada mesmo quando não aparece nas gravações porque bebia demais. Apesar do sucesso, a relação se destrói porque Georgia se apaixona por Shields, e este finge estar interessado apenas para terminar o filme.
Por fim, o escritor Fred Amiel (Barry Sullivan) salta de um best seller para o mundo do cinema contratado por Shields, escrevendo um roteiro de sucesso que impulsiona sua carreira em Hollywood. Mas, sem querer Shields provoca uma tragédia e Fred nunca o perdoará.
Crítica a Hollywood
A crítica de Vincente Minnelli a Hollywood fica evidente na impiedosa forma que Shields constrói sua carreira passando por cima de todos. A última cena, porém, mostra uma perversidade ainda maior, pois os três artistas ouvem pela extensão do telefone as lamúrias de Shields, e se divertem com isso. As suas histórias, conforme foram reveladas durante o filme, deixaram claro que eles se beneficiaram da relação com o produtor e, mesmo assim, viram as costas para ele. Ou seja, não apenas o produtor é impiedoso, eles três também são.
Para Minnelli, não há inocentes na terra do cinema. Assim Estava Escrito revela com sua metalinguagem o que os espectadores normalmente não podem saber, e com uma estrutura narrativa genial que conduz os testemunhos com rara fluidez. Imperdível para quem adora o cinema clássico daquela época.
Ficha técnica:
Assim Estava Escrito (The Bad and the Beautiful, 1952)
EUA. 118 min. Dir: Vincente Minnelli. Rot: Charles Schnee. Elenco: Lana Turner, Kirk Douglas, Walter Pidgeon, Dick Powell, Barry Sullivan, Gloria Grahame, Gilbert Roland, Leo G. Carroll, Vanessa Brown, Paul Stewart, Sammy White, Elaine Stewart, Ivan Triesault.
