Quem apostaria num suspense de baixo orçamento dirigido pelo estreante S.K. Dale e estrelado pelo autômato Megan Fox? Poucos, e, por isso, Até a Morte: Sobreviver é a Melhor Vingança (Till Death) renderia uma bolada. É um filme inesperadamente ótimo. O enredo já arrisca uma novidade, criada por Jason Carvey, um pouco atuante cineasta que escreveu e dirigiu apenas um longa em sua carreira (A New Wave, de 2006). De sua mente, vem a ideia de colocar a protagonista contracenando com um cadáver na maior parte do filme. Nesse sentido, lembra O Terceiro Tiro (The Trouble With Harry, 1954), Um Cadáver Para Sobreviver (Swiss Army Man, 2016) e Um Morto Muito Louco (Weekend at Bernie’s, 1989); mas sem nenhuma comédia. Pelo contrário, é um thriller surpreendente!
Aniversário de casamento
Na trama, Emma (Megan Fox) está casada com Mark (Eoin Macken), um advogado bem-sucedido que a trata como lixo. Apesar disso, Emma ainda não quer largá-lo para viver com seu amante Tom (Aml Ameen). No dia do aniversário de casamento, Mark quer impressionar a esposa. E, após uma noite de reconciliação na afastada casa do lago do casal, Emma testemunha um suicídio e se vê algemada ao corpo do falecido. Logo, ela percebe que o marido planejou todos os detalhes para ela sofrer suas últimas horas de vida ao lado desse cadáver com os miolos estourados.
Não vamos aqui entregar mais do enredo, para não estragar o que Jason Carvey escreveu com rara inspiração. O ritmo do filme cresce paulatinamente, desde as vagarosas primeiras cenas que apresentam os relacionamentos de Emma com seu amante e com seu marido (já estabelecendo este último como um ser repugnante), até a montanha-russa enervante da protagonista arrastando o cadáver pela isolada casa. Mais perigos surgem para Emma, e o filme encontra soluções inteligentes para o eletrizante jogo de gato e rato que se forma.
S.K. Dale estreia com o pé direito
Mas não é só o roteiro que merece os louros. A direção de S.K. Dale supera a simples competência. Todos os planos são bem pensados, a maioria com câmera fixa (sem, portanto, cair na armadilha do abuso da câmera na mão usada exageradamente nas produções contemporâneas). Quando emprega um maneirismo, ela faz sentido para a narrativa; por exemplo, os giros em 360 graus ao redor da dupla de bandidos matutando ações perversas. No entanto, o que mais impressiona é o uso da profundidade de campo. Em várias cenas, esse recurso acrescenta suspense ao vermos a vítima no fundo do quadro, tentando não ser notada pelos vilões em primeiro plano.
Por fim, para fazer justiça a Megan Fox, a atriz está excelente nas cenas de ação, e segura bem esse filme que a coloca sozinha na tela (com um cadáver) em boa parte da trama. Embora não convença nas suas falas, quando pesa sua inexpressividade como atriz, ela compensa quando precisa criar o suspense silencioso que o enredo demanda.
Enfim, não deixe que o título quilométrico, Até a Morte: Sobreviver é a Melhor Vingança, te afugente. Na verdade, “Até a Morte” seria mais apropriado, pois relaciona com mais proximidade a comemoração do aniversário de casamento e tudo o que acontece logo em seguida. É um suspense acima da média, com trama inteligente, tensão crescente, e original, que chega com atraso aos cinemas, mas que ainda merece uma conferida. Vale a pena, ainda, ficarmos atentos aos próximos trabalhos do diretor S.K. Dale.
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Ficha técnica:
Até a Morte: Sobreviver é a Melhor Vingança | Till Death | 2021 | 1h28min | EUA | Direção: S.K. Dale | Roteiro: Jason Carvey | Elenco: Megan Fox, Eoin Macken, Callan Mulvey, Jack Roth, Aml Ameen, Stefanie Yunger.
Distribuição: PlayArte.