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Até os Ossos (filme)
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Até os Ossos

Avaliação:
8/10

8/10

Crítica | Ficha técnica

Até os Ossos (Bones and All) traz uma daquelas raras tramas que não permitem o espectador antecipar o que acontecerá no seu desenrolar. Cada novo evento surpreende e é impossível saber para onde a história caminha.

Essa imprevisibilidade, aliás, reflete a própria trajetória do seu diretor. O italiano Luca Guadagnino estreou com um filme policial, The Protagonists (1999), passou para o drama 100 Escovadas Antes de Dormir (Melissa P., 2005), depois para o romance Um Sonho de Amor (Io sono l’amore, 2009), e para o suspense Um Mergulho no Passado (A Bigger Splash, 2015). Então, fez o drama romântico LGBTQ Me Chame Pelo Seu Nome (Call Me By Your Name, 2017) e o terror Suspiria (2018). Isso sem contar seus documentários.

Em Até os Ossos, Guadagnino se mantém no terror, mas não com a escatologia desagradável do filme anterior. De fato, o diretor até evita essa sensação, como prova a cena em que uma idosa deitada no chão agoniza e os canibais ficam à espreita para devorá-la. Essa configuração já é suficiente para causar mal-estar no espectador, então, fez bem Guadagnino em manter o momento mais grotesco fora do quadro.

Canibais vampirescos

E, sim, esta é uma história sobre canibais. Mas não canibais refinados como aqueles de Fresh (2022), que comiam a carne humana que recebiam via delivery. Aqui, os canibais (“eaters” no original) são pessoas normais que, porém, possuem um instinto selvagem incontrolável, e devoram suas vítimas abocanhando a carne com os dentes, sem nem mesmo usar as mãos. Assim, se assemelham a vampiros com sua sede por sangue, porém sem nenhum superpoder. A comparação fica evidente quando os canibais saem com o rosto coberto de sangue após saciarem sua fome.

A trama conquista o espectador de imediato porque se centra numa protagonista interessante, a jovem Maren (Taylor Russell), uma eater que sofre a solidão resultante dessa condição. Quando o pai a abandona, ela sai à procura da mãe que a deixou após a menina atacar a babá, quando ainda era pequena. No caminho, descobre que existem outros como ela. O primeiro que encontra é o sinistro Sully (o camaleônico Mark Rylance), que vira um stalker pois a quer como companhia. O outro é o rapaz Lee (Timothée Chalamet), que tem mais experiência com canibalismo, mas carrega muitos traumas pessoais.

Maren e Lee iniciam um relacionamento, o que é bom para o filme, pois evita que o tom fique pesado demais. Assim, abre-se espaço para um alívio romântico (no lugar do tradicional alívio cômico). O romance fica no limite do tolerável. Uma dose a mais provocaria o risco de aproximá-lo de Crepúsculo (Twilight, 2008), ainda mais por contar com um dos jovens galãs do momento (Chalamet). Mas Guadagnino evita esse erro. Apesar de a premissa fazer parte do terror fantástico, o filme se mantém firme no tom sério, como se fosse um filme policial sobre crimes reais.

Um road movie cult

Por outro lado, a narrativa ganha ritmo porque os protagonistas estão constantemente em fuga. Com isso, Até os Ossos vira um road movie que atravessa vários estados americanos. Pena que, para nós que fazemos parte do público internacional não funcionem as siglas dos estados, que aparecem na tela a cada movimentação. Além de não sabermos os significados das siglas, não temos na cabeça o mapa geográfico do país. Aliás, caso o filme se torne cult, e tem potencial para isso, essa rota poderá virar uma trilha para os seus fãs percorrerem.

Até os Ossos é um filme instigante do início ao fim. Vale pela história, baseada no livro de Camille DeAngelis, mas principalmente pela direção de Luca Guadagnino, que acerta no tom (como acertou em Me Chame Pelo Seu Nome). Usa a câmera na mão somente quando a cena pede, e não distrai o espectador com firulas desnecessárias. Por isso, ficamos presos ao que se passa na tela. Por fim, guarda para a conclusão um maneirismo digno do melhor de Brian de Palma. Referimo-nos ao plano em plongée que mostra o brutal e inesperado desfecho, com a câmera atravessando os cômodos do apartamento como se não existisse um forro. Intenso e surpreendente, um fechamento que faz jus a tudo o que o filme mostrou até então.

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Ficha técnica

Até os Ossos | Bones and All | 2022 | Itália, EUA | 131 min | Direção: Luca Guadagnino | Roteiro: David Kajganich | Elenco: Timothée Chalamet, Taylor Russell, Mark Rylance, David Gordon Green, Michael Stuhlbarg, Jessica Harper, Chloë Sevigny, Kendle Coffey, André Holland, Ellie Parker, Madeleine Hall.

Distribuição: Warner.

Trailer:
Até os Ossos
Onde assistir:
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