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O Homem do Norte (filme)
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O Homem do Norte

Avaliação:
8/10

8/10

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Crítica | Ficha técnica

Em O Homem do Norte (The Northman), o diretor Robert Eggers deixa de lado a brincadeira de mau gosto que foi O Farol (The Lighthouse, 2019). Desta vez, o filme é sério, ou seja, nada de buscar o humor com personagens peidando. O que ainda resta do segundo filme de Eggers são ecos da música sinistra e um falatório exagerado. Essa música se concentra apenas na segunda parte, quando o protagonista Amleth (Alexander Skarsgård), já adulto, faz parte de uma desumana tribo que ataca pequenas comunidades para roubar e tomar como escravos. A trilha musical arrepia, mas também irrita com suas harmonias estridentes. Já o falatório está presente durante todo o filme, principalmente dessa segunda parte em diante, o que ajuda a tornar a trama mais arrastada.

Porém, em contraste, o ritmo da primeira parte do filme é notadamente acelerado. Com rapidez, vemos Amleth ainda criança testemunhar o assassinato do pai, o rei Aurvandil (Ethan Hawke). O responsável é o próprio irmão do rei, Fjölnir (Claes Bang), que, com isso, rouba o trono e a rainha Gudrún (Nicole Kidman). Então, surge um estranho ritual de iniciação perante Odin, a primeira de muitas intervenções míticas no filme. Explica-se: a história acontece no ano 914 na Islândia, e o povo local acredita nos deuses nórdicos. E, perceberemos, o próprio filme prefere deixar em dúvida se alguns eventos fantasiosos aconteceram ou se era apenas a percepção do crédulo Amleth.

Prato que se come frio

Enfim, voltando ao ritmo, a narrativa fica mesmo lenta quando Amleth recupera a sede por vingança, que ele deixara esfriar enquanto lutava ao lado dos selvagens que o adotaram. Sempre crente ao deus Odin, ele aguarda o momento predestinado para se vingar de Fjölnir, ou seja, quando o vulcão da região entrar em erupção. Segundo a mitologia, nas portas de Hel. Então, faz sentido que Amleth sofra, fingindo ser um escravo de Fjölnir, que já perdeu seu reino em batalha, mas ainda é dono de muitas terras. Mas, enquanto Amleth espera o tempo passar para comer o seu prato frio da vingança, acontecem alguns eventos contados em cenas longas demais. Por exemplo, uma versão ultaviolenta do hóquei.

O Homem do Norte surpreende por sua violência, num nível inédito em filmes de Robert Eggers. Nesse sentido, são especialmente chocantes as pilhas de corpos com os quais Amleth esculpe uma figura ameaçadora. E, mesmo quando não há violência explícita, os próprios costumes daqueles povos nos impressionam. Como, por exemplo, o sacrifício humano (Björk) e animal (um cavalo decepado) para garantir que o falecido alcance Valhala, o palácio dos mortos heróicos.

A trama possui densidade e nos prende como num livro (o filme se inspira em “Hamlet”, de Shakespeare), embora desejemos pular algumas páginas em alguns trechos. Afinal, por causa do ritmo lento em certos momentos, desejamos ir direto para o confronto entre Amleth e Fjölnir. No entanto, essa lentidão se mostra necessária, pois o filme provará que não estamos diante de uma aventura vaga e rápida. De fato, não devemos ser traídos pela simplificação que o próprio protagonista constrói e que acarreta na sua desilusão. Em outras palavras, não cabe nesse conto mitológico uma fórmula hollywoodiana de gênero. Por isso, espere surpresas até o final.

Cinema autoral

Se não estamos nos precipitando, a falação exagerada e o uso incômodo de música estridente saltam como características do cineasta Robert Eggers, apesar de sua ainda escassa filmografia de três longas. Ademais, essas particularidades se iniciam no segundo deles.

Enfim, junte-se a isso a fotografia exuberante, sempre a cargo de Jarin Blaschke. Desta vez, ele reúne o que elaborou para A Bruxa (The Witch, 2015), principalmente a iluminação noturna em ambientes internos; e em O Farol, ou seja, aqui o tom acinzentado da época de selvageria de Amleth. Mas o maior destaque da fotografia em O Homem do Norte encontramos no duelo entre o protagonista e seu inimigo, quando vemos apenas suas silhuetas diante da larva do vulcão em erupção ao fundo, em cena belíssima.   Por fim, ficamos com a impressão de que Robert Eggers comprova aqui seu cinema autoral. Afinal, mesmo imerso em uma produção grandiosa, suas características se mantêm. Ao que parece, esse controle atua a seu favor, pois ele faz aqui um filme consistente, bem diferente de O Farol, quando trabalhou com mais liberdade, mas entregou uma obra prepotente.


O Homem do Norte (filme)
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