O diretor e roteirista estreante Edward A. Palmer quase acerta em Até Que Você Me Ame.
O título nacional pode ser enganador. Afinal, Até Que Você Me Ame parece nome de um filme romântico, mas aqui foi utilizado num suspense. Na verdade, o misterioso título original, “Hippopotamus”, faz referência a um sonho recorrente que a protagonista tem.
A trama
A jovem Ruby acorda em um quarto branco vazio. Nele, há apenas uma privada, uma pia e uma cadeira, e uma pequena janela de respiro perto do teto. Parece até cenário de Jogos Mortais, porém limpo. E ela não consegue se levantar, pois seus joelhos doem. Além disso, ela não se lembra de nada.
Então, surge em cena um rapaz que explica a Ruby que ele a sequestrou e retirou os ligamentos do joelho dela para que ela não possa fugir. De acordo com ele, a moça será libertada somente quando o amar. E esclarece que a intenção dele de prendê-la não é para fins sexuais, como ela mesmo questiona diretamente. Toda essa apresentação será repetida em várias cenas, para ilustrar o processo gradual de recuperação de sua memória.
Assim, essa misteriosa situação coloca o espectador em dúvida sobre o que acontece. Como o sequestrador, Rob, é sempre gentil e nunca agride Ruby, parece fazer sentido a estória que ele conta. Segundo ele, os dois eram namorados antes de um acontecimento trágico que provocou uma morte e a perda da memória em Ruby. Então, ele encenou o sequestro para que a memória dela voltasse. Talvez essa seja a verdade, pois isso é ilustrado em uma sequência de flashback. Aliás, um trecho longo demais.
Análise
O diretor Edward A. Palmer mostra que conhece a gramática cinematográfica. Usa bem os planos detalhes, como quando vemos Ruby instintivamente tentar aumentar o comprimento de seu pequeno shorts logo após Rob comentar que deixou anticoncepcionais junto com a comida. Palmer demonstra a passagem do tempo com sequências de montagem do mesmo plano lateral do quarto, com os personagens em diferentes situações.
Por outro lado, se você acha que já viu a atriz Ingvild Deila antes, é bem possível que sim, porque ela interpretou a princesa Leia em Rogue One. Seu rosto, que naturalmente já lembra Carrie Fisher, foi modificado por computação gráfica para que ela pudesse interpretar Leia como se fosse a falecida atriz.
Até Que Você Me Ame é intrigante, e se oferece como uma alternativa bem original aos filmes sobre sequestro e rapto. Mas o final acaba exagerando na tentativa de surpreender o espectador. Se tivesse reduzido a dose, se soubesse quando parar, o resultado poderia ser impactante.
Spoilers adiante!
Especificamente, Até Que Você Me Ame seria um bom filme se Ruby escapasse e o espectador descobrisse a verdade, seja que ele era realmente seu namorado, ou que ele era um desconhecido louco/serial killer.
Por fim, o final aberto que o filme apresenta não satisfaz. Tudo indica que Rob não era o namorado, que tudo era invenção dele, porque em nenhum momento ele consegue explicar os motivos de retirar os ligamentos de Ruby, e nem como ele teria a capacidade de realizar essa delicada cirurgia.
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Ficha técnica:
Até Que Você Me Ame (Hippopotamus, 2018) Reino Unido. 77 min. Dir/Rot: Edward A. Palmer. Elenco: Ingvild Deila, Jonathan Cobb, Tom Lincoln, Stuart Mortimer.
Clique aqui para assistir ao trailer original.