O diretor Fabián Bielinsky é o autor de um dos mais aclamados filmes da cinematografia argentina, “Nove Rainhas” (2000), seu longa-metragem de estreia. E “Aura” foi realizado cinco anos depois, confirmando sua condição de cineasta de extremo talento. Porém, esse seu segundo filme se tornou também o último de sua brevíssima carreira. Bielinsky faleceu aos 47 anos, quando sofreu um infarto enquanto dormia em um hotel em São Paulo.
O prolífico ator Ricardo Darín protagonizou os dois filmes de Bielinsky. Aqui, ele vive Esteban, um taxidermista pacato com uma memória fotográfica excepcional. Certo dia, enquanto espera em uma fila de um banco conversando com um amigo, ele usa sua habilidade para contar como seria possível roubar o banco em poucos minutos. Aqui, o diretor habilmente enfatiza esse dom ao mostrar na tela o desenrolar do que o personagem cria na mente. Então, seu amigo joga na sua cara que ele é ótimo em planejar, mas não tem coragem para fazer nada. E aproveita a deixa para convidá-lo a caçar no fim de semana prolongado.
A fragilidade de Esteban
No prólogo do filme, vemos Esteban caído no chão de um caixa eletrônico, sem compreender a situação. Posteriormente, descobriremos que ele sofre de uma espécie de labirintite que o deixa desacordado. E o momento que antecede o ataque se chama aura, o título dessa película. A escolha não é à toa. Afinal, essa fragilidade é essencial para a construção do caráter desse personagem que, frente a fortes emoções, sucumbe. A revelação dessa debilidade surge quando Esteban se encontra na floresta caçando, prestes a abater um cervo. Depois, ainda atordoado, atira sem querer em um homem, que morre. A vítima é Dietrich, o dono dos chalés onde ele está hospedado.
A partir desse momento, a estória de “Aura” demora um pouco a se desenrolar. Mas, retoma a atenção do espectador quando Esteban descobre sobre o plano que Dietrich colocou em marcha para roubar o cassino local. Logo, influenciado pelas duras acusações de seu amigo, quando o inexperiente Esteban estragou a caçada, o taxidermista resolve assumir uma identidade falsa para fazer parte do golpe. Porém, as consequências dessa escolha mudarão o protagonista para sempre.
Capítulos diários
A estrutura do roteiro divide o filme em capítulos diários. Dura uma semana, começando numa quarta-feira. Assim, o início de cada dia é identificado com uma legenda. No dia derradeiro, vemos Esteban de volta a sua oficina, trabalhando em uma empalhação, como se tudo tivesse voltado à situação anterior à viagem. A diferença é sutil e visual. A câmera se move pela oficina e percebemos que o cachorro de Dietrich foi adotado por Esteban. Então, fica claro que a jornada foi transformadora para o personagem. Ao lado dos animais mortos empalhados, agora há um ser vivente. Por fim, Esteban venceu sua passividade, está mais corajoso. Em outras palavras, está vivo.
Ficha técnica:
Aura (El Aura, 2005) Argentina/Espanha/França, 134 min. Dir: Fabián Bielinsky. Rot: Fabián Bielinsky, Pablo De Santis. Elenco: Ricardo Darín, Manuel Rodal, Dolores Fonzi, Pablo Cedrón, Nahuel Pérez Biscayart, Jorge D’Elía, Alejandro Awada, Rafa Castejón, Manuel Rodal, Walter Reyno.
Assista: entrevista com Fabián Bielinsky