O filme argentino Nove Rainhas é um dos melhores sobre planos mirabolantes de trapaça, daqueles que deixam o espectador intrigado em descobrir quem está enganando quem.
O jovem trambiqueiro Juan (Gastón Pauls) está à beira de ser descoberto em um pequeno golpe numa loja de conveniência. Então, ele é salvo pela intervenção de Marcos (Ricardo Darín), um trapaceiro experiente. Imediatamente, Marcos o convida para ser seu novo parceiro para embustes, pelo menos por um dia. Porém, uma oportunidade para uma falcatrua que pode render uma grana alta surge inesperadamente após uma visita a Valéria (Letícia Brédice), irmã de Marcos.
Um rico colecionador de selos que se hospeda no hotel onde ela trabalha precisa deixar o país apressadamente. E um velho comparsa de Marcos falsifica uma série de selos raros, as nove rainhas do título, para vender a ele. Logo, Juan e Marcos se arriscam nesse embuste.
Fabián Bielinsky
Esse resumo da estória apenas toca na superfície do brilhante roteiro escrito pelo também diretor Fabián Bielinsky. Ele era um cineasta genial que, infelizmente, só conseguiu filmar dois longas-metragens, este e o também ótimo Aura (El Aura, 2005), vindo a falecer em 2006.
Nove Rainhas é um daqueles filmes sobre o qual não se pode revelar muito de sua estória. Afinal, seus desdobramentos devem surpreender o espectador para que o filme o encante. E sua trama envolve muitas reviravoltas. Com isso, impressiona a cada novo detalhe dos golpes, como se a malandragem não tivesse limites.
Personagens
Marcos e Juan são dois personagens consistentes, com personalidades distintas e solidamente construídas. O mais velho é detestável, um trambiqueiro que engana senhoras idosas e a própria família sem nenhum arrependimento. Por isso, ele é diferente do mais jovem. A consciência de Juan pesa ao aplicar golpes nas pessoas. Ele só aceita seguir nesse rumo porque visa um bem maior, que é libertar seu pai da prisão. Essa distinção contribui de forma essencial para que seu final revelador impacte o espectador.
Nove Rainhas lembra A Trapaça (The Spanish Prisoner, 1997), outro filme sobre golpes escrito por outro genial diretor e roteirista, David Mamet. Vale a pena assistir aos dois mais de uma vez. A primeira, para sermos surpreendidos. As demais revisões, para nos deliciarmos com cada detalhe do intrincado golpe da sua trama, entendendo como cada peça se encaixa nesse quebra-cabeça.
