Baarìa: A Porta do Vento é uma nova incursão nostálgica pela Itália da metade do século 20, tema recorrente na filmografia de Giuseppe Tornatore. Antes de mais nada, a estória se passa na Bagheria (Baarìa no dialeto siciliano), onde o diretor nasceu.
Peppino Torrenueva
O filme acompanha a trajetória de Peppino Torrenueva, desde sua infância até sua velhice. Esse extenso relato permite acompanhar os reflexos nos personagens dos importantes eventos históricos que modificaram a Itália, como a Segunda Guerra Mundial, os conflitos políticos com o surgimento da República e do socialismo, ao qual o protagonista se filia e transforma em carreira profissional.
E essa saga é retratada num filme épico com mais de duas horas e meia de duração. Essencialmente, os relatos são quase episódicos, concluídos geralmente com um fade-out abrupto. Nesse sentido, algumas transições utilizadas para mostrar a passagem do tempo refletem a criatividade de Tornatore. Mais de uma vez, ele usa a sobreposição do mesmo personagem na mesma posição, antes novo, depois mais velho.
Mas a mais bela dessas transições é aquela que traz o menino com várias sobras de películas de filmes. Primeiro, vemos pedaços de filmes antigos, depois de outros realizados posteriormente, indicando que o tempo passou. A metalinguística que marcou o filme mais famoso de Tornatore, Cinema Paradiso, de 1988, surge nesse filme nesse trecho e, também, em outros.
Quando Peppino ainda é jovem, ele vai a uma precária sala de cinema do início do século. Lá, um narrador lê as cartelas do filme mudo que está sendo projetado, em uma sessão tumultuada onde os frequentadores gritam um com o outro. Da mesma forma, outra referência metalinguística surge na cena que mostra o diretor Alberto Lattuada filmando na região.
Nostalgia
E o tom nostálgico de Baarìa: A Porta do Vento é reforçado pela fotografia com cores fortes reforçando o dourado. Adicionalmente, a composição da trilha musical por Ennio Morricone, como sempre, acentua esse sentimentalismo, apesar de que esse filme não apela muito ao melodramático. Por sinal, há até várias cenas cômicas, principalmente envolvendo o personagem Nino.
Por fim, a conclusão do filme remete ao seu prólogo, quando o fantástico entra em cena para revelar o encontro da riqueza das memórias antigas, simbolizada pelo brinco da filha encontrado pelo protagonista. E abre espaço para a magia que mostra a mosca ainda viva dentro do pião.
Em conclusão, menos sentimental que Cinema Paradiso, Giuseppe Tornatore produz um belo retrato da história da Sicília em Baarìa: A Porta do Vento (Baarìa, 2009).
Ficha técnica:
Baarìa: A Porta do Vento – Itália/França. 163 min. Dir/Rot: Giuseppe Tornatore. Elenco: Francesco Scianna, Margareth Madè, Lina Sastri, Ángela Molina, Nicole Grimaudo, Ficarra, Picone, Gaetano Aronica, Alfio Sorbello, Lollo Franco, Monica Bellucci.
Assista ao trailer aqui.