Back to Black, filme sobre a cantora britânica Amy Winehouse (1983-2011), fracassa no objetivo maior de toda cinebiografia, que é revelar a verdadeira pessoa por trás da artista famosa. O enredo parte da sua juventude, aos 18 anos, um pouco antes de assinar o seu primeiro contrato com uma gravadora, e se encerra com sua morte, por envenenamento alcoólico, aos 27 anos. Sobem os créditos finais, desta vez sem mostrar registros reais da retratada, e o espectador sai da experiência sem conhecer nada a mais do que já sabia sobre Amy Winehouse.
O conteúdo é escasso, aborda a ascensão da cantora de jazz ao estrelato e a premiações, em paralelo com o agravamento de seu alcoolismo. Uma trajetória improvável, diante do gênero musical escolhido e da ausência de ganância pela fama e fortuna, ou seja, bem diferente da maioria dos artistas de sucesso. Aqui, nem seu empresário demonstra essa obsessão. Poderia ser esse o diferencial desta biografia de Amy Winehouse, mas o filme prefere martelar no óbvio, seu comportamento autodestrutivo canalizado nas bebidas.
Predomina o tom dramático, no entanto, sem se aprofundar a ponto de explicar a origem de seu vício com o álcool. Logo no início, quando seu pai taxista a leva para casa, fica subentendido que existiam problemas na relação de Amy com a sua mãe. Contudo, o filme não explica esse ponto – e na premiação do Grammy a mãe está ali no palco ao lado dela, sem que o enredo mencione nada sobre o que rolou nesse período entre elas. Dentro do âmbito familiar, o roteiro se limita a colocar o pai como grande apoiador e a avó como a pessoa mais amada.
Um vilão e a fragilidade
Pelo menos, o filme consegue ressaltar a individualidade única de Amy Winehouse. Ela não se vestia de acordo com a moda da época, ouvia jazz das antigas e se recusava a tocar e cantar outro tipo de música. Sua vida louca significava passar noites em clubes de jazz, beber muito e não dar importância para os homens, sejam eles seus namorados ou amantes de uma noite só. Porém, e este é mais um ponto que o filme não desenvolve adequadamente, ela se apaixona perdidamente por um cara chamado Blake.
E Back to Black aponta, timidamente, Blake como o vilão da história de Amy. Na primeira fase do romance, ele sinceramente se apaixona também por ela, a ponto de abandonar a namorada que tinha. Mas, a relação não dura muito. Com sensatez, ele pula fora porque essa mistura de vícios (ele com drogas, e ela com álcool) era potencialmente destrutiva. Porém, ele retorna depois, quando a ex já está famosa, por puro interesse. Nesse trecho, o roteiro não tem sutilezas, nem criatividade, pois essa intenção é uma sugestão expressa do amigo de Blake.
Enfim, sem ter muito a acrescentar, o filme permite que se entenda que Amy Winehouse era no fundo uma pessoa frágil. Para começar, em uma discussão na gravadora, ela confidencia que se sente insegura no palco. Além disso, não conseguia lidar com os paparazzis que atormentavam a sua vida. Mas, mais importante, não suportou a desilusão do seu primeiro e único caso amoroso. Porém, isso tudo mundo já sabia, até mesmo antes de sua morte. O filme não traz nada de novo para quem acompanhou minimamente sua carreira.
A diretora e os atores
Com direção de Sam Taylor-Johnson, de O Garoto de Liverpool (2009) e Cinquenta Tons de Cinza (2015), o filme se arrasta por longas duas horas. E não há tantos fatos retratados nele, porém muitos dos números musicais são demasiadamente longos. A sequência do início do romance também demora para passar, prejudicada pelas más atuações de Marisa Abela, da série Industry, e de Jack O’Connell, ambos afetados e tão cheios de caras e bocas que constroem personagens rocambolescos. Equilibram a balança, nesse quesito, as sólidas presenças de Eddie Marsan e Lesley Manville, respectivamente, como o pai e a avó de Amy Winehouse.
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Ficha técnica:
Back to Black | 2024 | 122 min | França, Reino Unido, EUA | Direção: Sam Taylor-Johnson | Roteiro: Matt Greenhalgh | Elenco: Marisa Abela, Eddie Marsan, Jack O’Connell, Lesley Manville, Juliet Cowan, Sam Buchanan.
Distribuição: Universal Pictures.
Trailer: