Jaume Collet-Serra firmou-se como um requisitado diretor de filmes de gênero. Realizou filmes acima da média, como o terror A Órfã (2009), o suspense com tubarão Águas Rasas (2016) e a aventura Jungle Cruise (2021). Mas, também fez outros bem fracos, como o filme do super-herói da DC Adão Negro (2022). Essa oscilação deriva do fato de Collet-Serra não ser um diretor autoral. Então, se o material é bom, ele faz um filme bom; se é ruim, ele faz um filme ruim.
Bagagem de Risco
Bagagem de Risco, produção da Netflix dirigida por Collet-Serra, fica no meio-termo. Possui um ótimo ritmo, mas o roteiro não sobrevive ao menor escrutínio. Apela demais para os clichês: o herói vomita de nervoso, como se não houvesse outra forma de demonstrar esse estado; os personagens que ajudam o mocinho atendem as exigências inclusivas (uma policial mulher e negra, um casal gay como vítima). Mais grave que isso é que o enredo deste thriller cai na tentação de flertar com o humor (o bandido que se comunica com o protagonista parece mais um mentor cheio de conselhos do que um assassino frio que precisa ser). Além disso, o comparsa dele parece ainda menos ameaçador (e não é nada eficaz).
Por isso, o filme não alcança o suspense que devia brotar naturalmente da trama. Afinal de contas, envolve uma bomba com uma substância química altamente tóxica que os terroristas tentam embarcar num avião, mas que pode também explodir ali mesmo no movimentado aeroporto de Los Angeles. Por azar, Ethan Kopek (Taron Egerton) acaba virando o civil obrigado a obedecer às instruções dos bandidos, caso contrário eles matarão a sua namorada Nora (Sofia Carson), que está grávida. Funcionário da TSA (Administração de Segurança dos Transportes), Ethan recebe, justamente nesse dia, a chance de mostrar que pode ser promovido. Para isso, ele assume um dos postos de vigilância de raio-x de bagagens. E os terroristas exigem que ele faça vista grossa para a bomba que está numa das malas.
Mais ação do que suspense
O enredo tinha potencial para originar uma história tensa, mas isso acaba não acontecendo. Por causa daquele citado humor, o vilão (Jason Bateman) nunca parece tão perigoso. Consequentemente, parece que a bomba nunca está em vias de explodir (nem mesmo quando Ethan a desarma, pois o bandido que o guia não quer que ela detone).
Nessa trama, o efeito que provoca mais emoção é o fato de Ethan precisar guardar para si que está sendo ameaçado, sem poder, assim, alertar a polícia ou seus superiores. Nesse imbróglio, ele testemunha seus colegas sendo prejudicados (até por ele mesmo), sem poder fazer nada para ajudá-los, e sequer revelar a verdade. Isso vale, inclusive, para sua namorada, com quem precisa ser grosseiro para não a colocar em perigo.
É preciso destacar, mais negativa do que positivamente, o estranho efeito utilizado durante o confronto dentro do carro entre a policial Elena (Danielle Deadwyler) e um inimigo. Nessa sequência, talvez pela velocidade alterada e pelas câmeras estabilizadas no interior do veículo, parece que estamos assistindo a um videogame de ponta, e não a um filme. O recurso faz parte da busca do diretor pela ação frenética, o que, de fato, ele alcança. Porém, Bagagem de Risco se beneficiaria mais com uma tensão gradativa, sem pressa. Em outras palavras, com mais suspense do que ação.
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Ficha técnica:
Bagagem de Risco | Carry-on | 2024 | 119 min. | EUA | Direção: Jaume Collet-Serra | Roteiro: T.J. Fixman | Elenco: Taron Egerton, Jason Bateman, Sofia Carson, Danielle Deadwyler, Theo Rossi, Tonatiuh, Logan Marshall-Green, Dean Norris, Sinqua Walls, Cursiss Cook.
Distribuição: Netflix.