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Beginning (filme)
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Beginning

Avaliação:
9/10

9/10

Crítica | Ficha técnica

O filme Beginning desconcerta o espectador com sua rigidez formal.

Em seu longa-metragem de estreia, a diretora Dea Kulumbegashvili emprega um formalismo funcional que integra sua narrativa. Em outras palavras, se fosse filmado em estilo tradicional, Beginning não teria nenhum impacto.

Estilo

Para começar, o formato da tela é 1.33 : 1, ou seja, uma imagem praticamente quadrada que limita a visão do espectador. E esse efeito é ampliado pelos longos planos com a câmera fixa. Há alguns movimentos de panorâmica, mas são raros. Nesse sentido, até mesmo nos diálogos os planos se mantêm fixos. Dessa forma, vemos um personagem falando na tela, e a resposta vem na forma exclusivamente da voz, de fora da ela. O tradicional plano/contraplano é, assim, descartado.

Então, esse plano fixo se mantém na tela por vários minutos. Em algumas dessas cenas, o personagem permanece imóvel. Dessa forma, o espectador se sente como se estivesse dentro daquela situação, na posição do interlocutor do personagem. Tal qual o filho na cena em que a protagonista Yana está deitada no chão. Em outro exemplo, na cena de abertura, assistimos durante muito tempo a chegada dos fiéis à igreja e o começo da missa. Então, quando acontece o ataque, ficamos tão atordoados quanto os personagens presentes no local.

Tensão

Por isso, fica sufocante a tensão no assédio a Yana, em sua própria casa. Trata-se de uma situação em que a vítima se torna totalmente indefesa. Afinal, ela teme uma reação agressiva diante de qualquer resposta que incomode o ofensor. Porém, como veremos adiante, ao relatar o que aconteceu, ela não consegue demonstrar esse sentimento que ela vivenciou. E, nós, como espectadores compartilhamos o que ela sentiu.

Já a cena do estupro é angustiante por ser filmada de longe. Então, não há espaço para perversão, pois pouco se pode ver e nada se ouve, além do barulho do riacho. A violência, assim, se acentua pela frieza dessa mise-en-scène.

Religião

E Beginning toca no tema religioso. De fato, sua estória se inicia com um ataque a uma igreja das Testemunhas de Jeová. David, marido de Yana, é o pregador da comunidade local. Após o ataque, ele se afasta por alguns dias para consultar o que a organização decidirá sobre os próximos passos.

Na pregação da cena inicial, David fala sobre uma passagem na Bíblia onde deus pede a Abraão que mate seu filho. Esse trecho se conecta com a conclusão do filme e, provoca a hipótese de que Yana se sente igualmente testada. Da mesma forma, o assédio em casa também pode ser encarado como um teste. Adicionalmente, Yana talvez testasse o amor do seu filho ao se fingir de morta. Por fim, outro teste pode ser identificado no ato de David, que desiste da reclamação contra os agressores da igreja.

Acima dessa possível questão de provações, Beginning traz uma sequência final onde um homem morre e virá pó. Alinhando essa situação com a do envenenamento do filho de Yana, fica-se a dura sensação de que a vida não vale nada. Em outras palavras, é a insignificância do ser humano que fica latente quando Abraão se predispõe a matar seu filho, e Yana o seu.

Enfim, outras interpretações podem surgir diante de Beginning, de acordo com a bagagem de cada espectador. No entanto, independente disso, é estimulante observar como a diretora Dea Kulumbegashvili constrói esse filme com um formalismo tão consistente que induz a inserção do espectador na situação.   

Indicado oficial pela Geórgia para a disputa do Oscar de Melhor Filme Internacional.

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Ficha técnica:

Beginning (2020) Geórgia/França. 130 min. Direção: Dea Kulumbegashvili. Roteiro: Dea Kulumbegashvili, Rati Onei. Elenco: Ia Sukhitashvili, Kakha Kintsurashvili, Rati Oneli. Distribuição: Mubi.

Trailer:

Assista ao trailer legendado aqui.

Onde assistir:
Beginning (filme)
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