É difícil encontrar algo que funcione na comédia de ficção-científica Bigbug. Nem mesmo o visual, ponto forte do diretor Jean-Pierre Jeunet, com o qual encantou o público em O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Le fabuleux destin d’Amélie Poulain, 2001). Desta vez, o cineasta francês usa a computação gráfica para construir boa parte dos cenários futuristas, enquanto a outra parte traz tons fortes que mantêm o tom de fantasia. Dessa forma, tudo fica muito próximo a uma animação. E o primeiro terço do filme, além de apresentar os personagens, serve para elencar novidades tecnológicas que poderão existir nesse futuro. Como resultado, temos a impressão de que assistimos a uma live action do seriado The Jetsons (1962-1963).
Quando a trama se inicia, essa má impressão fica ainda pior, tamanha sua ingenuidade. De fato, não há nada original na ideia da Inteligência Artificial que desenvolve vontade própria e resolve aniquilar os humanos. Em certo momento, um dos soldados androides, os Yonyx, entra na casa dos protagonistas, o filme se torna ainda mais infantilizado. Porém, vale apontar que Bigbug não é para crianças, devido às insinuações sexuais.
Embaraçoso
Algumas cenas são embaraçosas de tão ridículas. Entre elas, aquela em que os personagens precisam imitar animais de circo. A intenção é aproximar os humanos dos animais? Ou puní-los por ter usado animais nos circos? Ou então, quando a vizinha machuca o pé ao dar um chute num androide caído, uma infeliz tentativa de humor chapliniano. Inclua, também, o tango mal dançado que sela a reconciliação do casal. E, até mesmo a solução Deus Ex Machina que resolve o filme é de uma preguiça imensa dos roteiristas, que são os mesmos que escreveram O Fabuloso Destino de Amélie Poulain – ou seja, o diretor Jean-Pierre Jeunet e Guillaume Laurant.
Jeunet não é novo na ficção-científica – vide Alien, a Ressurreição (Alien: Ressurection, 1997) – e na fantasia. Aliás, filmes como Delicatessen (1991) e Ladrão de Sonhos (La cité des enfants perdus, 1995), codirigidos com Marc Caro, davam a esperança de que surgia um Terry Gilliam francês. Porém, a sagacidade deu lugar à exploração da ingenuidade que deu certo com Amélie Poulain. Por isso, talvez o máximo que podemos esperar de Jeunet é uma aventura infanto-juvenil como Uma Viagem Extraordinária (The Young and Prodigious T.S. Spivet, 2013). Bigbug não tem essa ingenuidade sonhadora nem sagacidade crítica. É seu pior filme, de longe.
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Ficha técnica:
Bigbug | Bigbug | 2022 | 111 min | França | Direção: Jean-Pierre Jeunet | Roteiro: Jean-Pierre Jeunet, Guillaume Laurant | Elenco: Isabelle Nanty, Elsa Zylberstein, Claude Perron, Stéphane De Groodt, Youssef Hajdi, Claire Chust, François Levantal, Alban Lenoir.
Distribuição: Netflix.