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Armageddon Time (filme)
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Armageddon Time

Avaliação:
7.5/10

7.5/10

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Crítica | Ficha técnica

Armageddon Time apresenta um instantâneo provocador da sociedade estadunidense no início dos anos 1980. Na era Ronald Reagan, predominava o pensamento conservador de direita que elevava o pensamento carreirista e segregacionista. Nesse cenário, a história apresenta o protagonista Paul Graff (Banks Repeta). Paul é um pré-adolescente de uma família de classe média que vive nos subúrbios de Nova York. Seu irmão estuda numa prestigiosa escola particular, mas Paul está no ensino público, por causa da limitada situação econômica da sua família.

Sem expor gratuitamente, entendemos que Paul representa aquela parcela da população que não se encaixa na filosofia predominante na época. O garoto quer ser um artista, mas sua mãe Esther (Anne Hathaway) e seu pai Irving (Jeremy Strong) tentam convencê-lo de que essa carreira não é promissora. Na escola, Paul tem notas baixas e comportamento ruim, atribuída erroneamente ao fato de ele ser amigo de um menino negro, Johnny Davis (Jaylin Webb). O filme deixa evidente que o racismo institucionalizado cria obstáculos para Johnny. O preconceito do professor não deixa dúvidas disso, mas é só quando um rapaz aleatório no metrô o alerta sobre isso é que Johnny percebe de fato que suas chances de alcançar seus sucessos são limadas. Conforme a história avança, essa realidade se torna mais concreta.

A voz da sensatez

A transferência de Paul para a mesma escola particular do irmão revela como a integridade dos jovens pode ser rompida. Emblematicamente, no seu primeiro dia de aula ele ouve o discurso de Maryanne Trump (irmã de Donald, em participação especial de Jessica Chastain). Ela reforça a ideia de que esses alunos privilegiados estão destinados a serem os líderes do futuro. De maneira um tanto forçada, a trama logo mostra Paul na quadra da escola sem conseguir conversar autenticamente com seu amigo Johnny que surge da rua, do outro lado da cerca. Cabe a Aaron Rabinowitz (anthony Hopkins), o avô de Paul, cumprir seu papel de ser a voz sensata da família. Assim, é ele quem mostra o valor da integridade para seu neto.

Novamente, o diretor James Gray reforça a importância dos imigrantes na formação da sociedade americana. Em seu filme de estreia, Fuga para Odessa (Little Odessa, 1994), e em Era Uma Vez em Nova York (The Immigrant, 2013), os protagonistas são imigrantes da Europa. Agora, em Armageddon Time, a família de Paul é de origem judia. Aliás, o tumultuado jantar na casa de Paul lembra as famílias dos filmes de Woody Allen – mas aqui sem a intenção cômica.

Voltando ao tema de Armageddon Time, o avô de Paul lhe ensina que sofreu preconceito nos Estados Unidos da América por ser judeu, pois os empregadores alemães o dispensavam nas seleções de emprego. Ele não quer que Paul siga o padrão de comportamento da maioria, e pede que o neto reflita sobre o relacionamento de confiança com o amigo negro. O próprio pai de Paul também sofreu preconceito social da família de Esther, porque o pai dele era encanador.

Pequenos dramas do cotidiano

No lugar de apresentar picos dramáticos, o filme prefere pequenos dramas do cotidiano, que reforçam como era a situação social daquela época. Ficamos com a impressão de que esse zeitgeist conduzia a uma geração materialista e preconceituosa. Quem servia de pilastras para segurar essa onda eram pessoas como o avô de Paul. Mas, Aaron Rabinowitz morre, deixando uma incômoda interrogação sobre o futuro. Por fim, esse pensamento eclodiria na eleição de Donald Trump.

James Gray, que sempre escreve os roteiros dos filmes que dirige, prova que atingiu sua maturidade em Armageddon Time. Ele sempre invocou temas sérios em seus filmes, mesmo na ficção-científica de Ad Astra (2019), que abordava o relacionamento entre pai e filho. Da mesma forma, o filme de aventura Z: A Cidade Perdida (The Lost City of Z, 2016) lidava com a obsessão e o respeito pelos povos ancestrais. Desta vez, ele revela uma sociedade em perigosa transformação, sem ter que expor isso de maneira exageradamente explícita. Mas, James Gray pode afastar alguns espectadores por não apelar para emoções fáceis.


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