Blackberry é outro relato de projeto disruptivo recente que obtém um vertiginoso sucesso e depois se torna um retumbante fracasso. Mais um que vira filme ou série, indicando que o público gosta de ver essas histórias, talvez até para aprender o que deve e o que não deve fazer. No caso do aparelho de celular Blackberry, o iPhone o derrubou com uma tecnologia superior. Mas também por conta da perda de rumo de seus dois principais executivos. Afinal, sem esse fator humano, não renderia um bom filme.
Este é o terceiro longa do diretor Matt Johnson, que fez antes um policial (The Dirties, 2013) e um drama de suspense (Operação Avalanche [Avalanche Operation, 2016]). Na verdade, Johnson acumula mais créditos como ator, inclusive é ele quem faz o papel de Doug, o mais nerd da dupla de fundadores da Research In Motion, empresa que inventou o Blackberry. Pela sua atuação hilariante, podemos afirmar que é na comédia que ele se sente mais à vontade.
Como estilo de direção, Johnson aqui parece seguir os passos da série The Office, aproveitando que ela também trata, com uma visão cínica, do mundo corporativo. Assim, a câmera está na mão, fluindo livremente e trêmula entre os personagens. Em vários momentos, estaciona em algum deles para dali tirar humor, geralmente porque o que está sendo dito se aplica a (ou ignora) essa pessoa. Por exemplo, quando o novo diretor de operações grita com todos os engenheiros para que eles deixem de ser crianças e virem homens (em termos mais chulos, claro), e a câmera se fixa na única mulher da equipe. Dessa forma, a câmera móvel dá a impressão de que o espectador é uma testemunha, ou mesmo um espião, das absurdidades dos bastidores desse ambiente.
Do auge ao declínio
O filme começa em 1996, numa apresentação desastrosa de Mike (Jay Baruchel) e Doug para vender o projeto do novo aparelho que acopla um teclado a um telefone celular. Quem ouve, ou melhor, ignora, é Jim (Glenn Howerton) que, por desvios do destino, acabará sendo o CEO da Research in Motion.
Jim, com seu jeito agressivo e nada confiável, consegue materializar o projeto genial de Mike e levar o Blackberry ao auge em 2007, obtendo uma fatia de 45% do mercado. Mas, no processo, Doug, que era mais um entusiasta (no máximo um bom gestor de pessoas nerds), fica de escanteio. Enquanto isso, Jim perde seus escrúpulos, fato marcado pela cena em que ele aceita produzir o Blackberry na China, contrariando sua crença de que os produtos de lá são de baixa qualidade. No caso de Jim, o sucesso sobe à sua cabeça, e ele tenta comprar arenas de hóquei, sua paixão. Porém, antes disso, tinha feito um contrato fraudulento que a SEC (a bolsa de valores americana) passa a investigar.
Ao copiar o estilo de The Office, este Blackberry não tem o mérito de ser original. Mas, temos que admitir, funciona para colocar o toque de comédia que evita o filme de cair no marasmo. A câmera trêmula deixa também um nervosismo no ar, algo que realmente existia a partir da entrada de Jim, que abalou o mundo de fantasia dos nerds. Estes, novamente, são vangloriados e Doug é o que mais ficou rico. Faz parte da vingança dos nerds que filmes e séries atuais têm destacado.
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Ficha técnica:
Blackberry | 2023 | 120 min | Canadá | Direção: Matt Johnson | Roteiro: Matt Johnson, Matthew Miller | Elenco: Jay Baruchel, Glenn Howerton, Matt Johnson, Laura Cilevitz, Martin Donovan, Cary Elwes, Rich Sommer, Michael Ironside, Kelly Van der Burg.
Direção: Diamond Films.
Assista ao trailer aqui.