É prática comum em Hollywood um nome expressivo aparecer em um filme independente só para conseguir os recursos necessários para aprovar o projeto. Este parece ser o caso de Sylvester Stallone em Blindado (Armor), produção de terceira categoria dirigido pelo desconhecido Justin Routt, cujo segundo e mais recente filme na função foi lançado há 17 anos atrás. E, na indústria, seu último crédito em geral era como produtor de The Test (2011).
Mas, nem precisava escrutinar seu currículo inexpressivo para notar que o trabalho de direção em Blindado beira o amadorismo. Basta notar que Justin Routt filma vários planos aleatórios para depois colocar na edição. Dessa forma, tenta passar a falsa ideia de que cada cena foi devidamente planejada, e não rodada em um só plano de acordo com o acaso. Não adianta, o efeito é o mesmo. O filme todo soa truncado, a ação não flui e, por isso, o que acontece na tela nunca empolga. Há uma tentativa de cativar o público através do apelativo recurso de preencher cada cena com uma canção (música country na relação familiar, heavy metal no covil dos bandidos etc.), o que fica óbvio, e cansativo, demais na primeira parte do filme.
Roteiro
O roteiro até certo ponto se sustenta, embora não traga nada de novo. Stallone interpreta Rook, o chefe de uma quadrilha que tenta roubar um carro-forte dirigido pelo ex-policial James (Jason Patric) com a ajuda do seu filho Casey (Josh Wiggins). Durante a execução do assalto, o carro-forte tomba sobre uma ponte, local da emboscada. Mesmo cercados pelo bando fortemente armado de Rook, os dois resistem bravamente às tentativas de arrombamento.
Evidentemente, o roteiro tem seus furos. O principal problema é acreditar que os ladrões não queiram forçar a entrada no carro-forte. Apesar de meterem as balas na abordagem, Rook não quer matar ninguém. Nem mesmo quando membros da sua equipe morrem. Por outro lado, se o espectador se coloca no lugar dos seguranças, como propõe o filme, facilmente encontra soluções viáveis para saírem ilesos, entregando a caixa que os bandidos querem. A conclusão, então, mostra Rook indo embora com a pessoa que o contratou, sem levar a carga que queria, o que não faz nenhum sentido.
Uma direção mais eficiente poderia acelerar a ação para que os furos passassem desapercebidos. Afinal de contas, é raro um roteiro ser totalmente verossímil – e nem precisa ser. Contudo, em Blindado, a lentidão abre espaço para o público pensar em alternativas melhores do que o filme apresenta. E, claro, para procurar os tais furos.
O fato de o flashback ser o momento menos ruim indica o quanto o filme é fraco. Em tempo, o retrospecto revela o trauma que levou James a se tornar um alcoólatra. E faz sentido com a conclusão, pois ser um policial certinho demais resultou nessa tragédia familiar.
Elenco
Para deixar a tarefa ainda mais complicada para o diretor Justin Routt, o elenco é péssimo. Stallone e Patric até que se salvam, mas o restante, incluindo o ator que faz o filho, um dos protagonistas, entregam uma atuação sofrível. Os piores são os que interpretam os membros da gangue de ladrões, um mais caricato que o outro. Nem os figurantes conseguem fazer um trabalho decente. É claro que pode ser culpa do roteiro ou da direção, mas o que a tela mostra em termos de atuação deixa tudo muito falso.
Enfim, mesmo sendo sofrível, Blindado estreia nos cinemas no dia 6 de fevereiro de 2025. Enquanto isso, filmes melhores vão direto para o streaming ou nem chegam por aqui. Pelo jeito, foi um pacotão com desconto, pois em breve chega Código Alarum (Alarum, 2025), de Michael Polish, produzido por Justin Routt e com Sylvester Stallone no elenco – e com Isis Valverde, o que deve ter atraído a distribuidora.
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Ficha técnica:
Blindado | Armor | 2024 | 89 min. | EUA | Direção: Justin Routt | Roteiro: Cory Todd Hughes, Adrian Speckert | Elenco: Jason Patric, Sylvester Stallone, Josh Wiggins, Dash Mihok, Blake Shields, Josh Whites, Jeff Chase, Martin Bats Bradford, Erin Ownbey, Laney Taylor.
Distribuição: Imagem Filmes.
Trailer: