Pesquisar
Close this search box.
Blow-Up: Depois Daquele Beijo (filme)
[seo_header]
[seo_footer]

Blow-Up: Depois Daquele Beijo

Avaliação:
9/10

9/10

clique no botão abaixo para ouvir o texto

Crítica | Ficha técnica

A todo instante, Blow-Up: Depois Daquele Beijo contrapõe realidade e fantasia, ou, verdade e mentira.

No início, vemos duas situações paralelas. Primeiro, os jovens de cara pintada que extravasam, barulhentos e alegres, sua contracultura na swinging London dos anos 1960. Em contraponto, vemos os operários sérios e taciturnos saindo da fábrica. Dentro desse grupo, está o protagonista Thomas (David Hemmings), um renomado fotógrafo que se infiltra entre os trabalhadores para obter fotos autênticas.

Porém, na sua vida verdadeira, a fama o tornou prepotente. Em nome de seu perfeccionismo, trata mal as modelos que fotografa e as demais pessoas com quem trabalha. E passeia orgulhoso pelas ruas de Londres dirigindo seu carro conversível chique.

Investigação

Num passeio aleatório em um parque, ele fotografa despretensiosamente um homem maduro beijando uma jovem (Jane, vivida por Vanessa Redgrave). Quando a mulher percebe o que ele está fazendo, ela o persegue até em seu estúdio para recolher essas fotos. Thomas a ludibria e entrega um rolo qualquer. Então, instigado por essa insistência, ele revela e escrutina essas imagens. Assim, revela cópias cada vez mais ampliadas dos detalhes. Até que, para sua surpresa, descobre que ele registrou um assassinato. Logo, corre até o parque e confirma que existe realmente um cadáver ali.

Nessa cena antológica, a habilidade técnica do fotógrafo é que permite essa descoberta, tendo como chave o “raccord” do olhar da mulher. De forma semelhante, o diretor Brian De Palma recriará esse processo em Um Tiro na Noite (1981). Nesse filme, o editor de som vivido por John Travolta se depara com um crime ao ouvir os que captou para um filme.

Contudo, apesar dessa sua trama, Blow-Up não envereda nem pelo gênero suspense nem pelo policial. Ao invés disso, Antonioni prefere trabalhar esse enredo, baseado no conto “Las babas del diablo” de Julio Cortázar, sob o aspecto existencialista do protagonista.

Comunicação

Em parte, retoma o tema de sua Trilogia da Incomunicabilidade, composta por A Aventura (1960), A Noite (1961) e O Eclipse (1962). Em vários trechos, o que é falado não expressa a verdade. Por exemplo, a conversa de Thomas com o vendedor da loja de antiguidades, que praticamente fala o oposto do que é real. De maneira similar, o amigo que o protagonista encontra entorpecido por drogas e bebidas simplesmente não consegue se comunicar. E o embate entre Thomas e Jane é repleta de mentiras, de ambos os lados. De fato, a ideia da dissuasão é muito presente no filme, como na emblemática cena em que Thomas ensina Jane a se mover em um ritmo diferente da música que eles estão ouvindo.

Além disso, Blow-Up apresenta várias sequências longas sem nenhum diálogo. Nesse sentido, temos a cena em que Thomas fotografa o casal no parque, e sua investigação através das fotos. E, também, o famoso trecho com o Yardbirds, com as potentes guitarras de Jeff Beck e Jimmy Page, em um bar underground. Nela, Thomas briga para sair com um pedaço de guitarra que Beck quebra no palco. Ele nem estava, de fato, interessado nesse objeto, mas embarca na empolgação junto ao público. É mais um apontamento da mentira que o filme enfatiza tanto. Obs: para os fãs de Yardbirds, Led Zeppelin e Jeff Beck, esse trecho acontece na 1h29min do filme.

Fantasia/Realidade, Mentira/Verdade

Antonioni aponta a fantasia, se aproximando da mentira, dessa swinging London. O próprio glamour do charmoso fotógrafo assediado pelas mais belas mulheres se relaciona diretamente com esse tema. As modelos querem ser fotografadas por ele porque acreditam que ele as deixará mais bonitas nas fotos.

E Thomas parece ter um pouco de consciência sobre o embuste de sua profissão, por isso, sente a necessidade de publicar um livro com fotos que reproduzem a realidade com autenticidade. Aliás, essas fotos são em preto e branco, assim como as cópias que ele usa para sua investigação. Isso contrapõe o colorido dos cenários e dos figurinos nas sessões de foto em seu estúdio, bem como o visual dos jovens da contracultura.

No entanto, o episódio do assassinato provoca um baque em Thomas. Afinal, ele descobre a verdade através das fotos e a confirma com seus próprios olhos. Porém, antes que pudesse tomar uma atitude a respeito, o que era real já não pode mais ser provado. Sumiram as fotos e o corpo. Por fim, só resta a ele a fantasia dos jovens jogando tênis imaginário.

Lançado em 1966, Blow-Up antecipa a desilusão que abateria o fim dos revolucionários anos 1960. Como Thomas, o mundo descobriria a verdade por trás das mentiras em vários escalões, como o impacto internacional do envolvimento dos EUA na Guerra do Vietnã. O sonho chegaria ao fim.


Blow-Up: Depois Daquele Beijo (filme)
Blow-Up: Depois Daquele Beijo (filme)
Compartilhe esse texto:

Críticas novas:

Rolar para o topo