Em Bom Trabalho, a diretora francesa Claire Denis mergulha na evolução comportamental de um sargento militar que comete um erro fatal para sua carreira.
Nascida em 1946, Claire Denis cresceu na África colonial, cenário de muitos de seus filmes. Como deste, em que a estória acontece no pequeno país chamado Djibouti, localizada ao norte da Etiópia, que foi colônia da França entre 1888 e 1977. É durante essa fase que se passa o filme.
A história
O Sargento Galoup é o segundo na hierarquia da legião estrangeira estabelecida em Djibouti. Acima dele, está apenas o Comandante Bruno Forestier. O relato alterna cenas de Galoup em Marselha, na França, quando ele já foi destituído de seu cargo, com outras na colônia, que revelam o que levou à sua punição.
E Galoup é um líder exigente. Por isso, impõe um treinamento rigoroso para toda sua tropa, no sol escaldante do deserto. O seu erro foi implicar com um dos soldados, Sentain. Segundo seu próprio relato em Marselha, a antipatia nasceu desde que o jovem desembarcou em Djibouti. O sentimento se agravou quando o Comandante Forestier se interessou por Sentain, com conotações homossexuais. Enquanto o chefe elogiava sempre o soldado, Galoup nunca foi capaz de se conectar com Forestier.
Então, o comportamento de Galoup foi se tornando cada vez mais instável e o efeito era sentido na aplicação de exercícios desumanos. Quando ele aplica uma injusta punição a um soldado por ele ter se ausentado de seu posto para urinar, Sentain o agride para defender o colega. Como resposta, o sargento conduz Sentain até o meio do deserto e o abandona lá, num ato quase homicida, pois as condições de sobrevivência são escassas. Enfim, tal destemperamento arruína a carreira de Galoup.
Análise
Dessa forma, Bom Trabalho revela lentamente o declínio de Galoup, através dos treinamentos cada vez mais árduos e das suas reflexões posteriores em Marselha. E, no meio dessas cenas, alguns trechos instigam relações metafóricas. Por exemplo, os dois trechos onde o pelotão toma sol e aquela dança de Galoup na boate.
De fato, as sequências são longas e correm o risco de entediar o espectador, principalmente pelos numerosos trechos com os treinamentos, alguns similares a danças coletivas coreografadas. Mas, fazem parte da construção da narrativa, e fundamentam a evolução do comportamento doentio do protagonista.
Ficha técnica:
Bom Trabalho (Beau Travail, 1999)
França. 92 min. Dir: Claire Denis. Rot: Claire Denis, Jean-Pol Fargeau. Elenco: Denis Lavant, Michel Subor, Grégoire Colin, Richard Courcet, Nicolas Duvauchelle, Adiatou Massudi, Mickael Ravovski, Dan Herzberg, Giuseppe Molino.