Boogeyman: Seu Medo é Real supera os obstáculos que habitualmente derrubam vários filmes de terror. Entre eles, a concretização da entidade sobrenatural e a solução para derrotá-la. E isso decorre da interessante apropriação da fórmula do subgênero slasher, aplicada no terror fantástico. Esse longa poderia ser uma história de casa mal-assombrada, na qual a ameaça é um ser do além, o bicho-papão conforme o título original, que se esconde dentro do armário no quarto de uma menina. Isso se encontra, de fato, na trama. Mas, esse boogeyman não está vinculado à casa, e sim às pessoas, como acontece em Halloween (1978). Suas vítimas, aqui, são pessoas fragilizadas.
Por isso, quando o atormentado Lester Billings (David Dastmalchian) visita o psicólogo Will Harper (Chris Messina), que recentemente perdeu sua esposa, ele leva o mal até a sua família, que inclui a menina Sawyer (Vivien Lyra Blair) e a adolescente Sadie (Sophie Tatcher). Começando por Sawyer, essa entidade começa a atacar, e Sadie logo toma à frente no filme como a típica protagonista feminina que enfrenta o vilão.
O filme está repleto de jump scares, e a maior parte deles funciona e realmente assusta a plateia. Nesse quesito, merece elogios o diretor Rob Savage, neste seu quarto longa, o terceiro dentro do terror. Savage constrói com competência os momentos pré-sustos, quase sempre usando o silêncio como elemento de tensão. Espertamente, não mostra demais o monstro, para que o público não se acostume com sua aparência. Além disso, o filme se torna interessante quando revela que essa criatura, embora sobrenatural, se materializa e pode ser derrotado fisicamente. Com isso, os protagonistas não enfrentam um ser que será combatido através da magia, da fé ou do amor. Desta vez, eles precisam atirar e espancar o bicho, que, para bem do filme, não é indestrutível.
Mais um pouco sobre a trama
Sadie não está conseguindo superar a morte da mãe. Para piorar, tem amigas horríveis na escola, que caçoam dela. A princípio, ela não dá bola para as reclamações da sua irmã caçula, que diz ver um bicho-papão em seu quarto. Mas, quando o monstro resolve atacá-la também, é hora de ela revidar. A mais nova, Sawyer, não fica apenas na torcida e entra na briga para ajudar, o que dá oportunidade para a ótima atriz mirim Vivien Lyra Blair mostrar o seu talento. A menina, aliás, ficou famosa como a Leia na série Obi-Wan Kenobi.
O roteiro faz muitas concessões, porém. Por exemplo, o monstro poderia matar rapidamente Sawyer, mas isso não acontece. Depois de ensaiar várias vezes, a ataca e a arremessa contra a televisão, o que é suficiente apenas para ferí-la. O filme não explica o motivo, torcendo para que o espectador não note essa artimanha para manter essa personagem viva até o confronto final, só para dar mais emoção. O final se estica demais também, deveria terminar no auge, no confronto. Mas, a mise-en-scène no filme todo compensa essas falhas. Por exemplo, a cena na casa de Lester, as duas na verdade, possuem uma atmosfera assustadora, com a casa com velas espalhadas pelo corredor e a sinistra viúva sobrevivente. A batalha final também é digna de nota, e não decepciona ao mostrar a entidade do mal com mais evidência.
A boa direção de Rob Savage permite até destacarmos alguns flagrantes de brilhantismo. Como a transição usando o close da boca, e o detalhe do dente de leite amarrado num barbante, que acaba evidenciando para Sadie que o boogeyman existe. Assim, salvo alguns momentos acelerados demais em algumas cenas de ação, podemos afirmar que a direção é acima da média. Bem superior, aliás, do que o trabalho de alguns cineastas que forçam maneirismos indies para chamar a atenção. Desta vez, Stephen King, autor do conto que deu origem ao filme, não tem do que reclamar.
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Ficha técnica:
Boogeyman: Seu Medo é Real | The Boogeyman | 2023 | 98 min | EUA, Canadá | Direção: Rob Savage | Roteiro: Scott Beck, Bryan Woods, Mark Heyman | Elenco: Sophie Thatcher, Chris Messina, David Dastmalchian, Marin Ireland, Vivien Lyra Blair, LisaGay Hamilton, Maddie Nichols.
Distribuição: 20th Century Studios.
