O filme franco-belga Branca como a Neve se inspira na fábula dos Irmãos Grimm para contar uma estória de ciúme doentio de uma mulher com sua enteada.
Maud (Isabelle Huppert) é uma mulher de mais de cinquenta anos que teme perder seu atual namorado para a enteada Claire (Lou de Laâge), filha de seu finado marido. O filme não entrega, mas o espectador descobre junto com Maud que o namorado dela está apaixonado pela jovem beldade. Então, a viúva decide eliminar esse risco contratando um assassino para matar Claire. Um caçador salva a jovem sem querer, e ela acaba vivendo na casa dele, junto com outros dois homens. Em pouco tempo, vários moradores da pequena cidade estarão apaixonados por Claire.
Branca como a Neve alterna vários tons em sua narrativa. Primeiro, flerta com o suspense, ao mostrar uma floresta com uma montanha ao fundo coberta de névoa. Os homens com quem ela passa a coabitar são esquisitos, um violinista hipocondríaco e dois gêmeos nervosos. O filme possui também humor, como na bizarra cena em que Claire faz sexo com um veterinário tímido dentro do carro, quando esquilos os observam pelo para-brisas. Além disso, há várias sequências de sexo, pois Claire é bem liberal nesse quesito.
Porém, a experiente diretora Anne Fontaine optou por realizar um filme sem extremos. O suspense para na ausência de violência – e, quando há risco de morte, se desperdiça a sensação de ansiedade que a cena potencialmente possui. Por exemplo, as tentativas de Maud de envenenar Claire. Já a comédia não provoca gargalhadas, mas apenas sorrisos, porque o espectador fica incerto se aquele humor realmente deveria estar ali, num filme que não é construído com essa abertura.
Branca é a cor mais morna
Por outro lado, o filme não se arrisca a ser ousado suficiente para mostrar muita nudez e cenas de sexo que se aproximem do explícito. Fica muito longe, por exemplo, do também francês Azul é a Cor Mais Quente (2013), de Abdellatif Kechiche. Branca como a Neve aproveita a sensualidade natural da bela atriz Lou de Laâge, porém indica em sua parte inicial que caminhará para um certo atrevimento do qual acabará se desviando.
A inspiração na famosa estória de Branca de Neve soa forçada. O veneno dentro da maçã acaba não funcionando e Maud apela para outra forma mais convencional. A cena no hospital, quando Claire está inconsciente rodeada de sete homens, troca a salvação por um príncipe encantado pela complacência dos sete anões que salvaram a personagem dos Irmãos Grimm na floresta.
Ao final, Branca como a Neve acaba deixando no espectador a sensação de que as mulheres, tanto Claire como Maud, são as poderosas. Por isso, entre os personagens homens, todos têm sua dose de estupidez, uns mais, outros menos, principalmente na presença das duas belas mulheres. Se a intenção da diretora Anne Fontaine era provar que hoje as mulheres não ficam à espera de um príncipe encantado para se salvarem, então enrolou demais para passar sua mensagem.
Leia também a crítica de “Branca Como a Neve” escrita pelo colaborador Lucas Fernandes aqui.
Ficha técnica:
Branca Como a Neve (Blanche Comme Neige) França/Bélgica. 112 min. Dir: Anne Fontaine. Rot: Pascal Bonitzer, Anne Fontaine. Elenco: Lou de Laâge, Isabelle Huppert, Charles Berling, Damien Bonnard, Jonathan Cohen, Richard Fréchette, Vincent Macaigne, Pablo Pauly, Benoît Poelvoorde.
A2 Filmes
Trailer:
Assista: Lou de Laâge fala sobre Branca Como a Neve