Segundo longa do diretor Robin Pront, Caça Mortal (The Silencing) surpreende nos seus dois terços iniciais. Porém, desanda na parte final.
O clima frio e úmido combina com os thrillers policiais. É esse o ambiente da pequena cidade de Echo Falls, onde vive Rayburn Swanson (Nikolaj Coster-Waldau), um ex-caçador que transforma sua área num santuário para animais depois que sua filha desaparece. Embora isso tenha acontecido há cinco anos, ele ainda tem esperança de encontrá-la. Sua ex-esposa já está grávida de um novo casamento, mas Rayburn continua afundando suas mágoas na bebida.
Em paralelo, conhecemos a outra protagonista, a xerife Gustafson (Annabelle Wallis). Nascida na região, mas com formação numa cidade grande, ela almeja se candidatar a algum cargo importante – talvez prefeita, o cartaz no filme não revela. Um cadáver de uma mulher aparece no leito de um rio, e ela precisa investigar. Adicionalmente, ela precisa se preocupar com seu irmão mais novo, que sofreu abusos quando criança, e agora está sempre metido em confusão.
Quando Rayburn capta em suas câmeras de vigilância um homem camuflado caçando uma jovem em suas terras, ele corre para evitar um novo assassinato. Mas, no final das contas, acaba descobrindo um lado sombrio de Gustafson – fato que pega o espectador de surpresa. Assim, o enredo acaba resvalando no tema do “bom nativo”, ao colocar o assistente da xerife, o novo marido indígena da ex-mulher de Rayburn, como o exemplo de bom mocismo numa comunidade de pessoas que perderam o senso de moral.
O estado de alerta e o anticlímax
Os desvios da trama, especialmente em relação à conduta dos personagens, deixam o espectador num constante estado de alerta. Até certo ponto, é impossível prever o que acontecerá. Por isso, a parte final é frustrante porque resolve toda a questão da identidade do assassino caçador numa banal e não convincente questão das iniciais num pingente e na lança usada nas matanças. E a revelação vem sem nenhum clima de suspense, invertendo a lei do clímax final.
A direção de Robin Pront, na maior parte do filme, soa correta. Exceto por alguns deslizes, como a falta de um plano-detalhe para demonstrar ao espectador que a pick-up suspeita não é a que Rayburn marcou com um “x”. Ou com a inclusão de um flashback desnecessário do momento em que esse protagonista foi negligente com a filha que acabou sumindo por isso. Não precisava trazer isso com tanta evidência. Inclusive, tal urgência por mostrar tudo bem explicado destoa com o final aberto que deixa dúvidas se Rayburn vai parar de beber.
Merece uma nota crítica também o título genérico adotado pela distribuição brasileira. O original, “The Silencing”, traz um elemento intimamente conectado com o modo de operação do assassino, bem como se relaciona com os desvios morais dos protagonistas. É uma pena que isso tenha ido para o lixo com a troca do nome na tradução.
Enfim, Caça Mortal possui a força de uma personagem (a xerife) imprevisível, e ainda um culpado fora dos suspeitos usuais. Mas a forma como ela descobre esse assassino é um total anticlímax que detona a apreciação do filme.
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Ficha técnica:
Caça Mortal | The Silencing | 2020 | 93 min | Canadá, EUA | Direção: Robin Pront | Roteiro: Micah Ranum | Elenco: Nikolaj Coster-Waldau, Annabelle Wallis, Zahn McClarnon, Hero Fiennes Tiffin, Lisa Cromarty, Shaun Smyth, Jason Jazrawy, Brielle Robillard, Melanie Scrofano, Charlotte Lindsay Marron.