Baseado na graphic novel de Joe Kelly e J.M. Ken Niimura, Caçadora de Gigantes (I Kill Giants) é um tocante conto juvenil centrado no tema universal da morte. Sua premissa simples ganha contornos envolventes nas páginas do roteiro do próprio Kelly, transportadas para as telas com a competência do diretor dinamarquês Anders Walters. Este é o seu primeiro longa e ele ganhara um Oscar pelo seu curta Helium (2013).
Em emocionante atuação, Madison Wolfe interpreta Barbara, uma menina no início da adolescência que vive em um lar caótico. Pudera, pois quem tem que cuidar de tudo é sua irmã mais velha Karen (Imogen Poots), e o irmão do meio só quer saber de jogar games. Onde estão os pais, o filme responde parcialmente ao longo da estória. Se em casa está ruim, na escola Barbara é vista como excêntrica, porque anda com orelhas de coelho na cabeça (para se conectar com seu xamã) e espalha marcas e amuletos pelos corredores. E ela faz isso porque quer matar os gigantes que podem destruir a cidade.
Não demora muito para ela ter que conversar com Mollé (Zoe Saldana), a psicóloga da escola. O filme assume, na maior parte do tempo, a perspectiva de Barbara. Assim, vemos gradualmente mais e mais desses gigantes, inclusive um bem-intencionado que se torna o mentor da menina. Por outro lado, o longa não ignora os olhares analíticos da psicóloga que, após ser vítima de um ato agressivo de Barbara, resolve se aprofundar no caso dessa paciente, com a ajuda da nova (e única) amiga dela, a recém-chegada Sophia (Sydney Wade).
Spoilers adiante
Quem começa a assistir a Caçadora de Gigantes esperando uma aventura no campo da fantasia, no meio do filme já desconfia que não é isso que encontrará. Os gigantes aparecem muito pouco, e sempre sob o ponto de vista de Barbara. Apesar disso, as armadilhas que ela prepara são reais.
O roteiro acerta no timing dos eventos esclarecedores. Primeiro, Mollé e Sophia vão à casa de Barbara e conversam com Karen, a irmã dela. O que as duas descobrem fica em elipse. Então, num dos momentos mais emocionantes do filme, Barbara sucumbe ao medo que a sufoca e pede desesperadamente que a psicóloga a ajude. Sem criar dramalhão forçado, Caçadora de Gigantes desata o nó que prendia Bárbara a essa rede de fantasias que ela armara para não enfrentar a dura realidade: a sua mãe está morrendo.
Na criação desse escudo, a menina recorreu ao fato mais próximo do heroico que tinha visto em sua vida. No caso, o jogador de beisebol do time local, que acertou uma tacada que levou a uma impensável vitória sobre o adversário mais forte chamado Giants.
Certamente, essa obra ficcional não cria um caso extraordinário dentro dos anais da psicologia. Afinal, se trata de inventar um meio de não confrontar seu medo. No cinema, isso já deu vazão para a motivação de vários psicopatas – por exemplo, Norman Bates. Mas aqui leva a essa fantasia escapista criada por Barbara. Portanto, não é a novidade que faz a força de Caçadora de Gigantes, e sim como o roteiro desenvolve bem essa premissa, aguardando o tempo necessário para apresentar a personagem principal, seu comportamento e a redenção mais que apropriada. Uma ótima recomendação para jovens que precisam enfrentar o luto.
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Ficha técnica:
Caçadora de Gigantes | I Kill Giants | 2017 | 106 min | EUA, Bélgica, Dinamarca, Reino Unido, Suécia, China | Direção: Anders Walters | Roteiro: Joe Kelly | Elenco: Madison Wolfe, Zoe Saldana, Imogen Poots, Sydney Wade, Rory Jackson.